sexta-feira, dezembro 29, 2006


Humberto Borges ©

De cada vez que os via a brilhar no céu não conseguia conter-se e as lágrimas rolavam-lhe cara abaixo. De alegria. De alegria por ver o céu assim, iluminado, cheio de luzes e cores. Do negro tornado luz. Do barulho, do inesperado, da expectativa. O coração pulava-lhe garganta fora, as mãos batiam palmas de excitação, dava pulinhos e soltava risinhos de contentamento. As pessoas à sua volta riam-se dela e perguntavam-se se estariam perante um corpo de adulta com uma idade mental de 5 anos. Coitadinha, pensariam, enquanto ela se mantinha indiferente, não se importando uma raspa. Não havia nada que pudesse fazer para o conter. Das muito poucas certezas que tinha na vida, esta era uma delas: um fogo de artifício havia sempre de a encher de uma alegria extrema.

A todos vocês, que sabem que vos adoro, façam-me o favor de agarrar bem este 2007 que se aproxima!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa



Daniel Craig

Quero lá saber que toda a gente ande para ai a dizer que foi um mau casting pró último 007 e o raio! Este gaijo é um bom casting em qualquer lado, cruzes! Quase que me levava a ver o filme...

quarta-feira, dezembro 27, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

Um óptimo Natal!



Isto é uma das árvores de natal que enfeitam a Praça do Município em Lisboa, fotografada por baixo. Lembrem-se, há sempre uma perspectiva diferente de vermos as coisas. Um óptimo Natal para todos!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa


Roman Duris

Principalmente em noites de insónia! Irra...

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Até agora...



...o postal de Natal mais giro que me veio parar às mãos! Parabéns, Sofia!


Adoro esta cidade de Lisboa. Sabem bem disso. Gosto de sair à rua e de sentir como meu bairro, lugares por onde as pessoas passam a correr e em nada reparam ou para onde outros se deslocam de propósito, em férias. Adoro aqueles clichés todos que faz de Lisboa uma cidade única. A luz, os eléctricos, os cantos e recantos, o espraiar calmo do rio, as gentes etc, etc. Mas como toda a relação amorosa, temos os nossos momentos de conflito. Extremo, às vezes. Esta época natalícia é um deles. Zango-me seriamente com a cidade e amuo. Acho que Lisboa nesta altura do ano vira puta. Além de parecer uma rapariga da rua com o excesso de enfeites natalícios (dos quais até gosto, diga-se), a cidade abre-se descaradamente a quem a rejeitou durante todo o ano, deixando aqui entrar todos aqueles que, refastelados no suposto conforto dos arredores, levam o ano a bramar o quanto a detestam mais à sua confusão e o quanto lhes seria impossível viver aqui. Guiados pelo consumismo mascarado de espírito natalício, e aproveitando para fazer um programinha e ver os ditos enfeites, passeiam-se pela cidade enchendo as zonas mais carismáticas como se estivéssemos permanentemente à saída de um estádio de futebol em época de campeonato europeu. Locais antes aprazíveis tornam-se insuportáveis, as lojas que nos receberam durante todo o ano mostram-se estrangeiras, aqueles que reconhecemos como sendo os nossos bares e restaurantes abarrotam-se de jantares de empresa e do amigo secreto, com gente de chapéu de pai natal na cabeça e copo de vinho na mão, já meios toldados. Isto para não falar na porra da árvore do Terreiro do Paço (que também gosto, diga-se, como aliás gosto de tudo que meta luzinhas) que, com a capacidade que tem para atrair saloios, de máquina de filmar ou de fotografar em punho, consegue encalacrar o transito todo da cidade a partir das 18 horas em dias de trânsito fácil, fazendo com que um trajecto de 10 minutos demore uns bons 55. Deve ser algum castigo que nos é infligido por capricho dos tais que criticam a cidade todo o ano e que demoram bem além de 55 minutos por dia a vir dos seus pacatos arrabaldes para aqui ganharem o pão. Bom, a confusão geral é de tal ordem que só nos apetece fugir da nossa própria cidade, correr para o sossego do lar, trancar bem a porta e só voltar a pôr o pé na rua lá para meados de Janeiro. De preferência depois dos saldos.
Lisboa, se fosse uma rapariga digna e honesta, ou até mesmo puta, mas puta fina, nesta altura do ano fechava os acessos e reserva-se de amores para aqueles aqui vivem todos os dias do ano, que a acarinham e que lhe tentam dar alguma vida.

Pas mal, pas mal...

Já se sabe. Nesta altura do ano começam a chover mensagens de Boas Festas. No outro dia recebi uma engraçada. Reza assim:
This is a toast to us ladies for 2007. For the men who have us, for the losers who had us and to the lucky bastards who will still meet us.

Sem querer parecer uma daquelas feministas arreigadas, tá giro, tá giro!

terça-feira, dezembro 19, 2006

Damn Aussies!



No outro dia recebi um sms de um amigo meu, australiano, de Sidney. Estava exultante porque se encontrar finalmente a viajar pela velha Europa, local de onde lhe veio a linhagem russa, estando agora na Alemanha, nem sei bem onde, histérico com os festejos de um Natal invernoso, coisa que nunca teve oportunidade de viver. Demasiada emoção para uma pessoa só, sem dúvida. No meio da sua excitação, desafiava-nos a nós, os amigos europeus, espalhados entre Portugal, Suiça, Áustria, Espanha, Hungria, Inglaterra e Holanda, a irmos ter com ele até à Alemanha, como quem vai ali até ao Porto e volta ou, na impossibilidade disso, de nos encontrarmos todos algures a meio caminho nesta Europa comunitária. Sugestão decerto fomentada não só pela ingenuidade típica australiana mas também por uma noção bem diferente de espaço e distâncias. Claro que nós, os europeus, lhe dissemos para ir dar banho ao cão aproveitando para passar ali pelo bilhar grande, que queríamos era ficar sossegados nos nossos cantinhos (aka países), qual agora estar a fazer quilómetros para tomar um café! E assim o pobre do Dave há-de regressar ao seu pais continental, de onde lhe levou uma vida inteira a sair, sem ter tido oportunidade de estar com qualquer um de nós. Um verdadeiro exemplo de como o meio ambiente em que vivemos condiciona a nossa perspectiva da vida e o modo de fazer as coisas.

domingo, dezembro 17, 2006

Ódios de estimação



Domingo, 21:45. Ligo a televisão e encontro na RTP 1 um publico histérico, a aplaudir de pé a entrada em cena da Catarina Furtado, vestida de prata e com as mamas a entrarem-nos pelos olhos dentro. Igualmente histérica, anuncia a entrada da Sílvia Rato (será?), que se apresenta com um decote até ao umbigo a disfarçar a ausência de mamas.
2:, José Hermano Saraiva no miradouro da Cerca Moura, em Lisboa, histérico, às voltas com a gloriosa Regeneração de Portugal.
Opto pela SIC e dou de caras com outro José histérico, o Herman, vestido de mestre de cerimónias circenses, de camisa azul forte com floreados brilhantes mais a conhecida cabeleira oxigenada, a entrevistar o Fernando Tordo e o Carlos do Carmo, presentes na assistência, perguntando-lhes se estão à espera dos palhaços.
Mudo para a TVI e aparece-me mais um José, o Wallenstein, acompanhado pelo Rui Pregal da Cunha, ambos histéricos, esganiçados e aos saltinhos, a cantar o Uma da manhã, ei! Duas da manhã, ei! das Doce. No final são interpelados por uma histérica e roliça Júlia Pinheiro.
Domingo, 21:47, desligo a televisão e conformo-me com a ideia que deve tratar-se do biblot mais inestético que tenho cá por casa.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O livro do momento



E o que eu ando a ler, para equilibrar um bocadinho as coisas...

Numa palavra



Excelente!

quinta-feira, dezembro 14, 2006


Humberto Borges ©

Vira-se de repente sem emprego. Assim que o patrão lhe descobrira o romance com o filho e a tomara por uma porca de uma oportunista em busca de mais altos voos do que os prometidos pela simples condição de secretária. Os meses passavam e ela sem trabalho. O medo de se tornar num daqueles sem abrigo que vira todos os dias a caminho do emprego que a rejeitara, espreitava-lhe a cada esquina. Enquanto um novo trabalho insistia em não aparecer, tornar-se uma paixão de aluguer pareceu-lhe o mais óbvio. Até porque sempre gostara de sexo, porque não ganhar dinheiro com isso? Seria ouro sobre azul e apesar de pequenina e redondinha olha, seria como dizem, a mulher é como a sardinha, quer-se pequenina e gordinha. Seria assim? Já não se lembrava.
Achou por bem procurar alguém que percebesse do assunto, que tivesse uma casa montada evitando-lhe preocupações com clientes de estribeiras perdidas e pagadores em hora incerta. Aconselharam-lhe a D. Laurinda, cinquentona mais que batida no negócio da venda de amor de mulheres, e que lhe inspirou confiança precisamente por isso. Por ser mulher.
Do alto do seu corpo entroncado, a D. Laurinda disse-lhe que sim, que até estava mesmo a precisar de uma rapariguita nova e de carnes rixas. “Sabe, é que os clientes são desta casa há muito tempo e uma vez por outra sempre gostam de provar carne fresca” dizia-lhe ela por entre uma gargalhada solta, vinda da boca desdentada e que lhe fazia tremer o corpo todo.
Alguém a preveniu que o primeiro cliente, o Dr. Ambrósio, homem de família, aprumado e de capachinho bem penteado e colado à testa, gostava das coisas feitas devagar, conforme a idade lhe ia permitindo, com muita palavra terna, simulando rios de amor e carinho. Acatou a deixa e depois de uma breve troca de palavras e insinuações, lá subiu com o Dr. Ambrósio para um dos quartos dos amantes. Envolveu-se das maiores canduras e enlevo, pronta a conquistar por breves instantes um coração que lhe disseram doce. Para, surpreendida, prontamente descobrir que o bom do Dr. Ambrósio queria lá saber de falinhas mansas, candura e preliminares. Aquele homem franzino gostava mesmo era das coisas feitas à bruta e foi com um passe de mágica que Vera se viu de repente estirada na colcha de cetim azul, comprada numa qualquer feira de aldeia, com o Dr. Ambrósio montado em cima dela, de tecto às cavalitas, a urrar-lhe aos ouvidos.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

É por estas por outras

Um terço das mulheres que aborta com comprimidos recorre depois a serviços de saúde.

in http://www.publico.clix.pt/

Mais precisamente, aqui:
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1279449

O que se vive é uma perfeita hipocrisia. E em louvor de quê, afinal? Neste caso especifico, os ditos comprimidos são muito possivelmente prescritos por um médico do SNS, sendo por isso comparticipados, e é o próprio SNS que leva depois com os encargos de resolver a situação. De uma forma camuflada, o aborto já é quase legal. É por esta e por outras que oxalá o Sim ganhe a 11 de Fevereiro próximo. Isso e o facto de, se ganhar o Não, termos que levar mais uma vez com a trampa toda desta discussão quando nos quiserem chamar para o 3º referendo. Para já não falar nos custos que um referendo tem para o Estado e ronhónhó...

quinta-feira, dezembro 07, 2006


Humberto Borges ©

Conheço-te os passos e sei a que cheiras.
Adivinho-te as palavras e quase descubro onde vives.
Sei de cor os contornos da tua face
e a que sabe a tua boca.
Sinto o calor que se desprende de ti quando me vês
e o desejo que não conseguirás saciar.
De ti,
por quem espero há uma vida inteira,
sei tudo.
Mas apesar de te sentir assim tão perto,
não te vejo.
Procuro-te com a ansiedade de uma chegada
há muito anunciada.
Busco por ti por entre caras que não conheço,
que nada me dizem.
E não te encontro.
Encontro-me antes a mim,
numa praia fria e nua onde,
por entre as cavalgadas do mar,
ouvirei a tua voz,
que em tempos me foi prometida.
Quando ao de leve me chegares
e tocares na minha mão trémula
e desencantada.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Ganda noia...



O público português tem destas idiossincrasias. Se o artista é ele mesmo uma coqueluche da moda, idolatrado por uma vastíssima minoria (ou não), não interessa o que o artista decida fazer em palco porque parte do espectáculo já está ganho só por o artista estar ali, se ter dignado a visitar o nosso pais e a granjear o público com a sua presença. Foi mais ou menos o que se passou ontem na Aula Magna. Pouco importou que a Charlyn Marie Marshall (aka Cat Power) tenha dado um espectáculo sofrível, garantindo sobriedade, com uma voz que mal se ouvia e umas piadas meio atabalhoadas sobre sapatos portugueses e gente bocejante na plateia. Qualquer coisa seria melhor que o desastroso concerto de há dois anos no Porto, estando o público (que esgotava a sala) rendido à partida e destituído de qualquer sentido crítico pelas razões que já referi. O mesmo público que no final a ovacionou de pé, em êxtase, elegendo-a a ícone dos tempos modernos. Eu por acaso também me levantei. Mas foi só para ver se finalmente se passava alguma coisa de interessante no palco.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Aqui cheira mesmo a Natal!



Avec du vin chaud et du jus de orange au miel...

quarta-feira, novembro 29, 2006


Humberto Borges ©

Estava ali há horas. A mexer e remexer naquelas caixas, gavetas e baús que encerravam uma vida inteira que, afinal, mal conhecera. Cheias dele. De roupas, livros, fotografias já amareladas e sebentas carcomidas da faculdade. Peças que procuravam conjugar fragmentos de uma vida que ela tinha, por tão pouco tempo, partilhado. António sempre tivera a mania de guardar tudo. E ali estava tudo, de facto. Até os brinquedos. Brinquedos que lhe passavam pelas mãos carregados de estórias que ela nunca ouvira e que tentavam desvendar-lhe uma infância que ela se esquecera de perguntar como fora. Uma angústia percorria-a ao mesmo tempo que mexia em soldadinhos de chumbo, pequenos carrinhos de corrida, berlindes... Agora seria tarde demais para qualquer resposta. E nem sequer mãe e irmãos, transformados em sogra e cunhados para toda uma vida por conta de um papel assinado à pressa num final de tarde de sol envergonhado, lhe poderiam contar fosse o que fosse sobre aquela infância. Não agora que haviam partido para a terra, carregados de lágrimas e amarfanhados por uma desolação sem fim. Restava-lhe tentar adivinhar todo um passado que lhe escapara. Imaginou António, gaiato, a brincar, a correr, a dar voltas e mais voltas até ficar tonto. Tal e qual como tonto ficava de tanto se rir com ela. Sorriu ao ver uma mão cheia de pequenos fantoches. O bandido, o mago, a coruja e a princesa. Todos sem boca e de olhos frios e negros. Adivinhou as estórias que ele havia posto naquelas bocas ausentes, encenando teatros de fantoches para a família inteira, na sala, junto à lareira onde, anos mais tarde, a despira pela primeira vez. Estórias certamente de bravura e onde a donzela era resgatada no final tal como ele a havia resgatado a uma vida triste e solitária e lhe havia mostrado um mundo inteiro de novidades. Viu-o a jogar ao berlinde, a ensaiar os primeiros metros em cima de uma bicicleta ou a correr atrás de uma bola, de calções vestidos, impecavelmente engomados pela mãe, a taparem-lhe os joelhos esfolados. Brincadeiras certamente com o César, o Chico e o Zé, os mesmo que prontamente haviam telefonado para ela no dia anterior a darem-lhe os pêsames, quando os gritos e o choro ainda se ouviam pela casa.
Ficou ali esquecida, entretendo-se assim por muito tempo, sorrindo e procurando não pensar naquela pergunta que lhe ribombava na cabeça: Como pudera ele ter abraçado assim a morte? Obrigando-a agora a virar uma página e a seguir em frente?

terça-feira, novembro 28, 2006

segunda-feira, novembro 27, 2006

Uma dúvida que sempre tive

Porque será que as pessoas que, supostamente, mais nos amam são também as que, deliberadamente, mais capazes são de nos magoar?

sábado, novembro 25, 2006

Há vidas dificeis!

"Depois de tentativas falhadas com Viagra, medicamentos ocidentais e receitas afrodisíacas da medicina tradicional chinesa, os especialistas descobriram a solução ideal para convencer os pandas a acasalar: mostrar aos machos videos pornográficos. Filmes de pandas a rebolar com pandas têm feito maravilhas pela profileração da espécie. O desinteresse sexual destes animais é uma das justificações para o facto dos pandas estarem ameaçados de extinção:60% dos machos não demonstra apetite sexual, mesmo quando a fêmea está no cio. Que, aliás, dura só 48 horas por ano..."

in Diário de Noticias
24.10.06

sexta-feira, novembro 24, 2006


Humberto Borges ©

Um dia acordou e tinha um alto bem no meio do peito. Com o seu jeito despachado, não lhe deu grande importância e tomou o seu duche habitual. Enquanto tomava o café da manhã deu-se conta que o alto lhe começava a doer. Como se a água do duche tivesse provocado uma reacção estranha naquele corpo que sempre estimara. Intrigado, começou a vestir-se com cuidado. Quando vaidosamente se olhou ao espelho ajeitando a gravata, viu duas minúsculas folhas a espreitarem-lhe por entre os botões da camisa Ralph Lauren. Sentiu então um sem fim de dores pelo corpo todo, como se pequenos ramos quisessem sair-lhe do corpo, furando-lhe a pele. E de facto, assim era. Rapidamente o corpo se encheu de ramos com folhas verdes acabadinhas de nascer e uma outra ou outra flor aqui e ali. Em pânico, assistia àquilo tudo diante do espelho, àquele corpo que rapidamente se metamorfoseava em árvore. A cabeça ia-se transformando numa enorme copa de castanheiro, onde até as castanhas já iam aparecendo, e os pés começavam a transformar-se em grossas raízes, que procuravam segurá-lo ao chão. Aflito com tudo aquilo, começou a chamar pela mulher. Maria, Maria! Mas nada. A mulher estava muda e queda. Maria, insistia enquanto a custo arrancava os pés feitos raízes e arrastava-se até à cozinha partindo ramos ao passar pelas portas e sentindo gotas de resina em forma de lágrimas. Finalmente, ouviu a voz da mulher que, de uma forma tão doce como nunca lhe ouvira, lhe dizia Querido? Estou aqui, querido. Encontrou-a então na cozinha, em frente do lava-loiça, precisamente onde a deixara na noite anterior antes de se refastelar no sofá depois de um opíparo repasto que comera depressa e sem emitir uma palavra. Aliviado, encaminhou-se para ela. Mas, para sua grande surpresa a mulher transformava-se, ali, mesmo à sua frente, num enorme e reluzente machado.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Do maior trovador dos nossos tempos...



"Back in the day you had been part of the smart set
You'd holidayed with kings, dined out with starlets
From London to New York, Cap Ferrat to Capri
In perfume by Chanel and clothes by Givenchy
You sipped camparis with David and Peter
At Noel's parties by Lake Geneva
Scaling the dizzy heights of high society
Armed only with a cheque-book and a family tree
You chased the sun around the Cote d'Azur
Until the light of youth became obscured
And left you on your own and in the shade
An English lady of a certain age
And if a nice young man would buy you a drink
You'd say with a conspiratorial wink "You wouldn't think that I was seventy"
And he'd say,"no, you couldn't be!"

You had to marry someone very very rich
So that you might be kept in the style to which
You had all of your life been accustomed to
But that the socialists had taxed away from you
You gave him children, a girl and a boy
To keep your sanity a nanny was employed
And when the time came they were sent away
Well that was simply what you did in those days
You chased the sun around the Cote d'Azur
Until the light of youth became obscured
And left you on your own and in the shade
An English lady of a certain age
And if a nice young man would buy you a drink
You'd say with a conspiratorial wink "You wouldn't think that I was sixty three"
And he'd say,"no, you couldn't be! "

Your son's in stocks and bonds and lives back in Surrey
Flies down once in a while and leaves in a hurry
Your daughter never finished her finishing school
Married a strange young man of whom you don't approve
Your husband's hollow heart gave out one Christmas Day
He left the villa to his mistress in Marseilles
And so you come here to escape your little flat
Hoping someone will fill your glass and let you chat about how
You chased the sun around the Cote d'Azur
Until the light of youth became obscured
And left you all alone and in the shade
An English lady of a certain age
And if a nice young man would buy you a drink
You'd say with a conspiratorial wink "You wouldn't think that I was fifty three"
And he'd say,"no, you couldn't be!"

Lady of a certain age
Divine Comedy

Acompanhado da música, aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=wVfv9X0y-UU

quarta-feira, novembro 22, 2006


Humberto Borges ©

Só faltavam 4 km. Havia percorrido mais de 38 km. 38 km esfalfados por curvas sinuosas e subidas ingratas, debaixo de uma chuva de fim de mundo. Já só faltam 4 km. 4 km onde o cansaço começava a ser demasiado. Os 47 anos que carregava já se faziam sentir e não perdoavam. Isso e as noitadas de copos onde, à custa de tanta cerveja, a língua se lhe embrulhava e os olhos reluziam para aquelas miúdas de vinte e poucos anos, que quase nada tinham para lhe contar mas que o embriagavam com os corpos enxutos, de peito espetado e sorriso malicioso estampado na cara. Noitadas que se mostravam no cansaço que começara por entrar-lhe devagarinho no corpo e agora se transformara num cansaço agudo, como se lhe espetassem um estilete bem no meio do coração. Só faltam 4 km, só faltam 4 km, insistia para consigo enquanto os outros, bem mais novos, também de vinte e poucos anos, passavam por ele num passo elegante de corrida deixando-o para trás como se nada fosse. Só faltam 4 km... sussurrava baixinho à medida que o passo de corrida cedia a um passo lento e cambaleante. Curvando-se sobre si mesmo, levou a mão ao peito não conseguindo perceber se a dor que sentia lhe vinha da falta que lhe faziam aquelas miúdas de vinte e poucos anos, tão curvilíneas e generosas, ou simplesmente do cansaço dos últimos 38 km da sua vida. Só faltam 4 km, murmurou, de joelhos, por entre um breve suspiro.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Uma dúvida que sempre tive

Não seremos mais felizes na iminência de um momento feliz do que no momento propriamente dito?

quarta-feira, novembro 15, 2006

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa



Mark Ruffalo

Podia ser de aliança no dedo e tudo!

Humberto Borges ©

Sempre que as via pela primeira vez, elas apareciam-lhe cor-de-rosa. Fossem morenas, ruivas ou loiras, baixas ou altas, magras ou gordas, cada mulher que encontrava era vista pelos seus olhos como uma imensa mancha rosa, de contornos pouco claros. Um rosa tão forte que lhe fazia saltar o coração do peito e encher o olhar de enlevo. Que o envolvia, inebriando-o e fazendo-o perspectivar toda uma vida perfeita em comum. Uma vida cor-de-rosa. Onde todos os seus anseios se realizariam. O rosa tornava-se ainda mais vivo a partir do momento em que se envolvia com elas. Os gestos, hábitos, gostos e conhecimentos delas adquiriam então diversas matizes de cor-de-rosa. Era tanto o rosa que quase ficava cego, deixando de ver fosse o que fosse enquanto ardia em paixão. Mas aos poucos, à medida que as ia conhecendo melhor, aquele rosa ia-se esbatendo. Passava a uma cor indefinida cada vez que um defeito se mostrava, que uma palavra ou um gesto o desapontavam ou quando a vivência que tinha com elas lhe ficar aquém do que havia imaginado. De tal forma que às tantas o rosa pura e simplesmente desaparecia. Altura em que as via e em que as deixava.
Sim. Porque era-lhe impensável amá-las quando se tornavam cinzentas.

domingo, novembro 12, 2006

- Queres que te faça uma massagem nos pés?
- Por haveria de precisar de uma massagem nos pés?
- Porque passaste a noite inteira a correr nos meus sonhos.

Dito aqui:



Num cinema perto de si.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Pois...

"A satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras (...) Numa cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista".

in Amor Liquido
Zygmunt Bauman

quinta-feira, novembro 09, 2006


Humberto Borges ©

- Se eu fosse um caramelo? O que fazias comigo?
- Desembrulhava-te devagar, metia-te na boca e deixava que a adoçasses.
Ela sorriu, corada.
- E uma caixa de música?
- Dava-te corda todos os dias, a todas as horas e cantava contigo.
- Então e se fosse um pássaro? Aposto que não saberias o que fazer comigo se eu fosse um pássaro.
- Por muito que te quisesse livre não conseguiria resistir a pôr-te na gaiola mais bonita para poder olhar para ti.
Ela torceu o nariz em desagrado.
- E se fosse um xaile?
- Embrulhava-me em ti e deixava que me aquecesses numa noite fria.
- Uma maçã?
- Comia-te para que passasses a fazer parte do meu corpo.
Ela começava a mostrar algum cansaço e falta de ideias. E deixou-se ficar, hesitante.
- Já sei! Uma bola! Se eu fosse uma bola tinhas mesmo que me tratar mal, chutando-me!
- Não. Pegava em ti com cuidado e levava-te a rebolar por prados e praias até te cansares.
- Uma bailarina?
- Havias de ser tão levezinha que andava contigo ao colo.
Ficou calada por breves instantes, pensando numa alternativa.
- Um pião? Terias que me largar e deixar rodopiar para longe de ti.
- Sim, mas no fim da brincadeira pegava em ti e trazia-te comigo.
- Um pequeno lenço bordado? Tinhas que te assoar a mim!
- Por mais constipado que estivesse não o faria. Limitava-me a guardar-te no bolso para poderes andar sempre comigo, quentinha.
Ela suspirou, aparentando sinais de quem começava a desistir.
- Não vale a pena, disse ele, fosses o que fosses não haveria como fazer-te mal e arranjaria maneira de te ter sempre comigo. Tal como o quero agora.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Desconhecia em absoluto que isto ainda se podia fazer...

Hussein Sentenced To Death By Hanging

in Washingtonpost.com

segunda-feira, novembro 06, 2006

Pois...

Yes we're here
Free to laugh and cry
Obliged to try
And nothing here's worth winning without a fight
(...)
'Cause we are just seconds
Seconds in a day
(...)
Oh yes we're here
Free to go insane
Joy and pain are fighting in the corridors inside

We're here
Guillemots

Tudo, aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=1n6uV9wqpuU

Eh, eh, eh...


"A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica apreendeu 684 artigos eróticos, avaliados em cerca de 15 mil euros, no âmbito de uma operação nacional de fiscalização realizada a 59 operadores” (...). Entre as irregularidades detectadas consta a falta de livro de reclamações. Está-se mesmo a ver uma cliente a queixar-se da falta de qualidade do vibrador ou o cliente a protestar que “esta boneca insuflável só sabe fingir orgasmos”...”

Na Visão desta semana.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Pois...



Um livro sobre a fragilidade dos laços humanos. Na contra capa lê-se "A misteriosa fragilidade dos laços humanos, os sentimentos que esta fragilidade inspira e a contraditória necessidade de criar laços e, ao mesmo tempo, de os manter flexíveis são os principias temas deste livro. Bauman analisa assim o modo como a nossa era, que ele designa por modernidade líquida, ameaça a capacidade de amar e os crescentes níveis de insegurança, tanto nas relações amorosas como nas familiares, e até no convívio social com estranhos."
Até pode ser um daqueles livros de auto ajuda da tanga (o que não me parece visto o autor ser sociólogo, gente pouco dada a tangas) mas tive que o trazer para casa. É que, nesta altura do campeonato, qualquer coisa serve para me ajudar a entender esta coisa a que insistem chamar de relações humanas.

Ódios de estimação

Esqueçam lá o Orçamento de Estado para 2007 mais o défice. Ignorem a reeleição do Lula no Brasil, o rescaldo do Congresso do PS, a passagem de Cahora Bassa para o estado moçambicano, a compra da Portugália pela TAP, os testes nucleares da Coreia do Norte ou até a polémica sobre se o MST afinal plagiou o Equador ou não. Esqueçam tudo. Não façam caso de nada porque importante, importante é o facto da Elsa Raposo, tadita, ter terminado a sua relação com o professor de surf que diz ter tido uma nova perspectiva das coisas após umas férias conjuntas nas Maldivas e pretende agora ganhar dinheiro à conta das estórias que tem para contar da sujeita. Não faço ideia que nova perspectiva o rapaz terá tido da moça e sempre pensei que, ao fim de uma semana de namoro com a rapariga, todas as perspectivas e mais alguma estivessem afincadamente exploradas. Parece que agora os psicologos saltaram em sua defesa e dizem que a moça ama demais (sim. A palavra utilizada é ama...). É o que lhe vale, pobrecita da moça, vá lá, que em 24 horas conseguiu arranjar quem a consolasse, haja Deus! O que quer dizer que o outro, o professor de surf, antes de se ir embora não lhe partiu os dentes. O que é uma pena...

segunda-feira, outubro 30, 2006

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa



Peter Krause

Assim. Sentadinho no sofá cada vez que eu metesse a chave à porta.

Humberto Borges ©

Como de costume àquela hora, Violeta esfregava os olhos cheia de sono. Mesmo assim, teimosa, pediu-me que lhe contasse uma estória. Olhei para ela, sentei-me à beira da cama, afaguei-lhe a cabeça sedosa que em tempos me coubera na mão e contei.
Havia duas castanhas. Pareciam o Bucha e o Estica. Uma era gorda e robusta, orgulhosa da quantidade de miolo que tinha para oferecer, com uma enorme mancha branca que não a deixava confundir-se com nenhuma outra castanha. Tão gorda, tão gorda que a casca luzidia já dava de si.
E a outra? Como era? Perguntou Violeta, curiosa. Espera, disse-lhe eu, já vais saber.
A outra era esticadinha. Histérica por dietas e nada preocupada com o facto de um dia ter de alimentar alguém.
A estória parecia não estar a entusiasmar Violeta por ai além, que soltou um longo bocejo.
Andavam sempre juntas. Desde o dia em que tinham nascido coladinhas uma à outra no mesmo ramo de um velho castanheiro, perdido no fundo de um jardim onde já ninguém ia.
Impaciente, Violeta mudava agora de posição na cama.
Um dia, iam as duas a passear pelo parque da cidade. A gorducha tagarelando alegremente sobre o dia, se tudo corresse bem de S. Martinho, em que a meteriam num pote de barro e assada e cheia de fuligem, dando sentido a toda a sua gordura, mataria a fome de alguém. Violeta parecia adormecer.
A mais magrita ia à frente, desvairada, em passo de corrida a ver se queimava mais algumas calorias, rezingando, queixando-se da vida e das caimbras que lhe iam aparecendo nas pernas. A única coisa que se lhe ouvia era que, se tudo corresse bem também, de tão enfezada que era nunca ninguém a havia de querer comer.
Sim, Violeta adormecia calmamente.
De tão desaustinada que ia, continuei, tropeçou e caiu numa sarjeta onde deve ter ficado até hoje. A castanha gorducha? Essa, de tão gorducha e luzidia, foi feita marron glacé, mergulhada em açúcar, embrulhada em papel celofane brilhante e rodeada de outras tantas castanhas orgulhosas de si mesmas.
Olhei para Violeta que dormia agora profundamente, com um breve sorriso desenhado na cara. Dei-lhe um beijo, apaguei a luz e sai devagarinho.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Porque o Natal não é quando um homem quiser, caramba!

Segunda-feira, 23 de Outubro. Entro no Saldanha Residence e que vejo eu? Uma enorme arvore de Natal acompanhada dos mais diversos enfeites natalícios. Só faltava mesmo o Jingle Bells de fundo. A 23 de Outubro, malta, 23 de Outubro!! É que nem nos deixam respirar!

Os quadros da minha (curta) vida



The Extraction of the Stone of Madness (1475-80)
HieronymousBosch
Museo del Prado, Madrid

Muito se fala deste pais, da forma como insistimos em não nos equiparamos ao resto da Europa questionando-se o porquê das coisas nunca funcionarem. Neste Sábado, o Expresso trouxe uma reportagem digna de qualquer pais em vias de desenvolvimento. Em Oeiras, distrito há pouco tempo noticiado como o mais letrado do pais, uma pessoa tem que estar antes das cinco da manhã à porta do Centro de Saúde, que só abre às oito da manhã, para conseguir uma consulta. Para aquele dia ou para dali a um mês. Se tiver o azar de ter mais não sei quantos desgraçados que madrugaram como ele mas conseguiram chegar segundos antes, esgotando as senhas do dia, mais não lhe resta que voltar a repetir a maratona no dia seguinte ou, pior, dali a um mês. Situação mais que caricata. A de uma pessoa ter que perder uma noite de sono para esperar para marcar uma consulta médica no Serviço Nacional de Saúde. À chuva e ao vento, se for caso disso, correndo o risco de apanhar uma pneumonia e incorrer por si só em mais encargos para o próprio SNS. Já assim era quando eu era adolescente e corria para o mesmo Centro às escondidas dos meus pais para marcar uma mísera consulta de Ginecologia. As desculpas que eu tinha que inventar para saltar da cama às quatro da manhã e sair porta fora. E, na altura, nem sequer os after hours estavam na moda. Nunca pensei foi que, volvidos quase 20 anos, tudo se mantivesse na mesma. Num pais onde quase 25% do Orçamento de Estado vai para a saúde e onde a despesa total com saúde ronda os 10% do PIB nacional, justifica-se? Talvez. Porque não é uma questão de falta de dinheiro. É pura e simplesmente má gestão e completo desrespeito por aqueles que devíamos estar a servir. Com estas e outras tantas tão parecidas ainda perguntam porque raio somos nós um povo triste, pais do fado e do eterno derrotismo, sem nunca conseguirmos equipararmo-nos ao resto da Europa?

quinta-feira, outubro 19, 2006


Humberto Borges ©

Há palavras que nos beijam. Ela sabia-o bem. Melhor que ninguém. Ele sempre tivera esse jeito, de a beijar ao de leve com palavras. Sempre a mimara assim. Desde o dia em que se conheceram, há quase 50 anos, numa esplanada junto ao mar. Quando ela lhe perguntara o que queria beber e ele lhe respondera Uma água bem fresca, para me acalmar o desejo que tenho de te fazer feliz. Palavras que vinham de mansinho, pé ante pé, lhe percorriam o corpo como beijos e, enchendo-a de arrepios, a envolviam em ternura e a faziam sentir-se a mulher mais amada do mundo. Agora, quando já nada havia que a salvasse, quando os médicos olhavam para ela como um caso perdido escondendo envergonhadamente o olhar cada vez que lhe entravam pelo quarto dentro, ele sentava-se ao seu lado, pegava-lhe na mão fria e quase inerte e sussurrava-lhe: Quero que o vermelho te corra nas veias para sempre. Quero que fiques. Aqui. Comigo. Que esperes por mim para morrermos juntos e para juntos acordarmos do lado de lá. Palavras que lhe chegavam como um beijo. Mais forte que muitos dos beijos que havia recebido durante toda a vida, aquecendo-a e enchendo-a de uma esperança que ela sabia não poder existir.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Uma pequena delicia



Com o bónus de ter músicas do Sufjan Stevens na banda sonora.

Humberto Borges ©

Há já alguns meses que Rui não dirigia uma orquestra. Quase dois anos, para ser mais preciso. Desde que partira mãos e braços num mergulho mais afoito em mares açorianos que as operações haviam sido sucessivas, afastando-o daquilo que mais gostava de fazer. Tivera sorte, disseram-lhe. O que mais lhe doera nem sequer foram os ossos que lhe teimaram em juntar-se desajeitadamente. Foi ver-se assim, afastado das suas lides de maestro, sem poder orientar todas aquelas cordas, ver como bombos e pratos se curvavam aos seus gestos e como os metais obedeciam ao primeiro sinal que lhes fazia para entrarem. Tinham sido horas de exercícios acompanhadas por uma fisioterapeuta sádica que soltava um sorrisinho a cada queixa que tinha. Hoje, finalmente, aterrara em Lisboa, num dos seus costumeiros dias de sol que o aquecia, mantendo-se a alma fria com o temor que o jeito de maestro se tivesse ido embora juntamente com as ligaduras, ferros e talas que lhe aprisionaram os membros por tanto tempo. Tinha esmerado na indumentária. Escolhera algo casual não esquecendo o toque clássico de uma gravata. Simulando confiança e determinação, entrou em palco acompanhado da sua nuvem de cabelo branco e dos óculos na ponta do nariz, perante um público que ansiava por o ver outra vez. Cumprimentou este público que esgotava a sala, virou-se de costas, nervoso e trémulo, e encarou toda aquela gente que esperava um sinal seu. E de repente ao seu primeiro gesto, a sala encheu-se de sons e tudo lhe regressou como dantes. Onde as suas mãos arrancavam sons ao silêncio que se impunha. Sons dispares que percorrendo a sala se organizavam e se tornavam música aos ouvidos dos que ali se haviam deslocado. E Rui, feliz, acompanhou tudo aquilo com lágrimas intensas que lhe lavavam o rosto e lhe dissipavam a dor.

terça-feira, outubro 17, 2006

Mau Maria, mau Maria...



Ainda me hão-de explicar em que é que o meu Estado Civil incorre em despesa acrescida para o Estado para me penalizarem desta forma. Que me lembre, a última vez que o meu Estado Civil gerou qualquer tipo de despesa pública, foi quando pedi a renovação do BI. E na altura, paguei o serviço à semelhança de casados, divorciados e viúvos. Já não bastava ter um só rendimento e com ele ter que suportar todas as despesas fixas semelhantes às de qualquer casal, para ainda me virem aumentar a comparticipação para o bolo social. Deve ser alguma ideia mirabolante e reaccionária para incrementar a taxa de natalidade.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Beats me!



Confesso que nunca percebi o que acomete as minhas congéneres e as leva, em locais públicos vários, a saírem disparadas de onde estão e irem juntas à casa de banho, soltando risinhos e gritinhos. Devo ter um cromossoma qualquer a menos que me faz menos gaja do que elas, de certezinha, mas juro-vos, gaijos deste mundo, que tal coisa me deixa tão atónita como a vocês encontrando-se envolta em igual mistério. Fico ainda mais perplexa quando as vejo, aos pares, a espremerem-se todas para caberem no cubículo onde se encontra a sanita. É que não faço a mínima ideia o que uma fará enquanto a outra está a fazer o que ali a levou. Segura nela para que não se desequilibre e toque com o rabo na sanita?! Passa-lhe o papel higiénico?! É um enigma. Sendo gaija, e sabendo exactamente o que vou fazer a uma casa de banho pública, não entendo para que precisam de companhia. A menos, é claro, que estejam todas alegremente a partilhar carreirinhas de coca. Mas isso já é outra estória.
Depois, saem igualmente juntas e aos gritinhos e risinhos do dito cubículo e põem-se a retocar a maquilhagem em frente ao espelho enquanto trocam galhardetes invejosos tipo Ai estás tão gira e estás fantástica e tal e coiso. Um enjoo, só vos digo.
'Tá certo que há ocasiões em que uma mulher precisa de ter um pequeno tête-à-tête com a amiga sobre as ocorrências imediatamente anteriores mas... na casa de banho?! Além de me parecer um local desprezível para troca de cumplicidades garanto-vos que, nestes anos todos, nunca assisti a uma conversa que não se pudesse ter cá fora, com o barulho das luzes e tal. Enfim, devem ser estes comportamentos, a par de tantos outros que, às vezes, nos tornam seres tão irritantes.

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa



Viggo Mortensen

domingo, outubro 15, 2006

Custa-me



Fui ver. Um espaço fabuloso, noites inteiras a ver gente bonita, a sensação ilusória que somos alguém importante e que estamos num verdadeiro happening da cidade, boa música e copos à pala. Quem não gosta? O que acho imoral é que aquilo que é um divertimento quase privado, uma autêntica feira das vaidades, uma parada (outra!) oca, um evento que não tem praticamente qualquer impacto a nível nacional, quanto mais internacional, em termos de promoção da moda portuguesa ou mesmo da cidade de Lisboa, seja patrocinado a 80%, pelo que me disseram, pela Câmara Municipal de Lisboa.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Uinda, uinda, uinda!!

The Strokes have recorded a cover of Marvin Gaye's "Mercy Mercy Me" with guest performances by Pearl Jam's Eddie Vedder (vocals) and Queens of the Stone Age's Josh Homme (drums).

http://www.youtube.com/watch?v=IPuMT1teWaE


Por forças das circunstâncias, vi-me ontem metida no meio da manifestação geral que decorreu em frente à Assembleia da República. Até concordo com a ideia. Acho que um dos males deste povo é queixar-se, queixar-se e nada fazer. Têm por isso todo o meu apoio no que seja mostrar o descontentamento vivido. Mas confesso que até se me arrepiaram os cabelos quando percebi que as palavras de ordem continuam a ser O povo unido jamais será vencido e A luta continua. Um bocadinho vetusto, não? Por amor a whatever, ao menos renovem os slogans! Já para não falar do discurso que se mantém no Nós, os trabalhadores. Eles, os patrões.
E falava eu ainda esta semana em paradas que mais pareciam palhaçadas…

quarta-feira, outubro 11, 2006

Lisboa, menina e moça?



No início deste mês foi apresentada ao público a Proposta de Revitalização da Baixa-Chiado. Como amante e habitante que sou desta cidade, corri a ver mais pormenores, com o optimismo decorrente da coisa ter a chancela da Maria José Nogueira Pinto, pessoa que sempre me mereceu respeito e confiança. O programa em si procura fazer aquilo que nós, lisboetas até aos ossos, que temos uma paixão perdida por esta cidade e a quem dói o coração a cada atrocidade que lhe é feita, sempre reclamámos que devia ser feito. Igualar a Praça do Comércio às restantes grandes praças da Europa, fechando-a ao trânsito, calcetando-a e dinamizando-a com lojas, cafés e restaurantes; revitalizar a zona ribeirinha aproveitando para a ajardinar, tornando-a agradável a passeios e actividades ao ar livre; reabilitar cerca de 65% dá área edificada procurando aumentar significativamente o nº de moradores e arranjar alternativas para o trânsito de forma a reduzir substancialmente o nº de veículos naquela zona, são algumas das propostas, entre outras. Muito bem, muito bem, pensei eu. Finalmente um plano coerente, coeso, incisivo.
A Bolota só torceu o rabo quando me apercebi que o prazo para execução da revitalização é de 14 anos! Assim lido de repente ia tendo uma apoplexia e pensei que se propunham a terraplanar a zona toda e construir outra por cima. 14 anos?!? Mas como 14 anos?!? Atão, 14 anos não dão para construir uma cidade inteirinha?! Mas afinal quantos anos terá demorado a reconstrução da mesma zona após o terramoto de 1755?! Em 14 anos aquilo que se fez nos primeiros, vá lá, 6 não estará desactualizado e a precisar urgentemente de reforma? Em 14 anos os carros não quadruplicaram mandando pró galheiro qualquer plano mirabolante de redireccionamento de trânsito?!? Sem contar que, em 14 anos, corremos o risco de assistir a mais 3 presidências na CML e com isso este, e todos os outros planos de revitalização, reabilitação ou whatever que viessem, ficarem metidos na gaveta?! Ora, francamente, pá!

Ver mais aqui:
http://www.cm-lisboa.pt/?id_item=12686&id_categoria=11

terça-feira, outubro 10, 2006

Ódios de estimação

Ao que parece, no Sábado passado, na palhaçada que foi o desfile da SIC Avenida da Liberdade abaixo por conta do 14º aniversário da estação e que encalacrou o transito todo da cidade, a grande atracção do Circo Chen foi o José Castelo Branco, como domador de leões. Finalmente, a pessoa certa no lugar certo. Pena não ter atiçado os leões à Floribella e Cª que também por lá andavam.

Para pensarmos

Terra está em saldo negativo ecológico desde ontem

Se é um consumista inato ou simplesmente gosta do conforto ocidental, preste atenção a este dado: desde ontem, a conta ecológica da Terra entrou em saldo negativo. Por outras palavras, a partir de agora e até ao fim de 2006, os seres humanos estarão a explorar mais recursos naturais do que aqueles que podem ser renovados num ano civil.

in Publico-online, hoje

E agora ide ver isto, ide. Assimilem e façam qualquer coisinha.





sexta-feira, outubro 06, 2006

Guillemots



Pensei que fosse mais uma daquelas histerias da crítica portuguesa, que volta e meia eleva à condição de nova coqueluche bandas bastantes medíocres. Enganei-me. É mesmo muito bom.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Pois...



"You are interested in a person, not in life, and people die or leave us.(...) But if you are interested in life, it never lets you down."

Graham Greene
Our man in Havana

Ódios de estimação



Enquanto estive fora, houve alguém que simpaticamente me guardou um exemplar do 1º número do Sol, para que eu pudesse apreciar condignamente o novo concorrente do único semanário sério do pais. Uma primeira leitura deixou-me a impressão de não ser muito diferente do dito semanário sério. Uma veia mais sensacionalista, uma revista, Tabu, com um síndrome de esquizofrenia sem ter uma identidade própria e que me levantou muitas vezes a dúvida se estaria a ler a revista do novo ou do velho semanário, tal é a semelhança gráfica, sequência de imagens, alinhamento de noticias, etc, etc e pouco mais. Mas o pior de tudo foi ver os meus maiores receios confirmados quando pensei que o novo semanário seria uma extensão do enormíssimo ego do seu director, e deparar-me com uma página inteirinha no caderno principal dedicada à ruptura de José António Saraiva com o Expresso e à criação do Sol, com fotografias do Pinto Balsemão à mistura e tudo. Achei ridículo, infantil e escusado mas pensei que fossem entusiasmos de um número de estreia e que depressa se desvaneceriam. Enganei-me. Neste 3º número vejo que na Tabu, a tal revista esquizofrénica, existe uma crónica do Sr., de duas páginas, com o titulo "Os meus últimos dias no Expresso - Excertos do livro de confissões de um director de jornal, a publicar em Novembro". A adivinhar pelo título, "O almoço decisivo", o próximo capitulo continuará com a saga.
Passou-se! Só pode! Desculpem lá, mas a uma leitora que se digna a gastar 2€ para ser informada sobre o que se passa a nível nacional e internacional e ler opiniões abalizadas sobre assuntos vários, que porra interessam as quezílias do homem com um ego que não lhe cabe onde devia caber, com o antigo patrão e o raio?! Alguém que avise esse senhor que, mesmo pequenino, este pais tem histórias bem mais interessantes para serem contadas.

domingo, outubro 01, 2006

Mundial de pirotécnia 2006 - Lisboa - Parque das Nações



Espectacular! A participação portuguesa mais uma vez em grande. E fogo de artificio é algo que há-de sempre fazer-me chorar!

quinta-feira, setembro 28, 2006

Ódios de estimação

Hoje, na capa da Visão

Entrevista - José Carlos Malato
"Tenho uma sexualidade Todo-o-Terreno
"

Que bom pra ele! Não tenho nem ideia do que seja tal coisa mas já o estou a ver na próxima edição Lisboa - Dakar.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa



Johnny Depp

Ódios de estimação



Tenho que confessar que andava aqui numa nervoseira pegada que já ninguém me podia aturar, quase em delirius tremens pela abstinência de novidades da mais excitante novela deste Verão, aquela que me levou a gastar uma fortuna em tudo quanto foi revista de prensa rosa: Elsa Raposo y su vidita, tadita. É que quase nem pregava olho a pensar se a crente e esforçada visita a Fátima em descapotável teria surtido algum efeito no romance com o professor de surf, como tinha sido a recuperação da pequena cirurgia para tirar a tatuagem do braço com o nome do ex e outras coisas que tais. É que a Elsa, coitadita, é uma moça cheia de problemas, ainda por cima graves, e o meu lado altruísta leva-me a preocupar com gente assim, que querem?
Felizmente, desde ontem ao fim da tarde, altura em que ali no Mini-Preço me deparei com a Nova Gente e com mais novidades da recatada piquena, que a minha alma se encontra mais apaziguada. Foi um bálsamo para esta vossa escriba ficar inteirada de mais pormenores da vida intima de tão ilustre personagem da sociedade lusa e saber que a pobre, tadita, será operada ao peito ainda este ano porque, vejam só, tadita, tem uma contratura muscular que lhe deslocou a prótese de silicone para trás do musculo, exigindo a retirada e colocação de uma nova, pobrecita da moça, o que lhe havia de acontecer, vocês sabem lá a aflição que é ter silicone atrás do musculo da mama, pá! É como ter duas mamas numa só, caraças! Isto tudo em resultado de uma agressiva pancada no peito, não comentando a comedida moça se a pancada esteve directamente ligada ao ex-namorado que, dizem, batia-lhe.
Como o compreendo! É que eu, não tendo nada que ver com a sujeita, só de a ver assim esparramada em papel glossy de capa de revista fico cá com uma vontade de a desancar mais à porra do pessoal que lhe paga para ter histórias destas publicadas. Irra!

segunda-feira, setembro 25, 2006

Razões pelas quais vale mesmo a pena viver

Chegar a Lisboa, numa noite de chuva, e ir jantar ao Café de S. Bento com uma daquelas pessoas que nos estão mesmo, mesmo cá dentro. No coração.

A razão de tanto silêncio

sexta-feira, setembro 08, 2006

Uma piquena agitação neste marasmo



Sem dúvida que a imprensa nacional se encontra a atravessar um período algo conturbado. Depois do fim de O Independente, do Expresso se ver obrigado a reduzir o seu tradicional tamanho, e respectivo preço, e a oferecer uma excelente colecção de DVD’s à borla à conta da saída do novo e luminoso semanário do ex-Expresso José António Saraiva, eis que o 24 Horas anuncia hoje um grande concurso liderado pelo inenarrável José Castelo Branco, em que irá oferecer operações plásticas às leitoras. Juro! Não sei se aguento tanta comoção nesta reentré. E isto tudo quando nos encontrávamos ainda meio aturdidos com a novela de Verão que foram as desavenças amorosas da Elsa Raposo mais as promessas a Fátima e o raio.

Pois...



Help, I have done it again
I have been here many times before
I Hurt myself again today
And, the worst part is there's no-one else to blame

Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me

Breathe Me
Sia

quarta-feira, setembro 06, 2006



Tive oportunidade de visitar Malta nestas férias. Escolha de última hora quando outros destinos já se encontravam cheios e quando se procurou agradar aos gregos e troianos da comitiva de férias. Não sendo nada de transcendente, o pais tem a sua piada e merece uma visita atenta. Três ilhas que são um dos últimos redutos do catolocismo, com cerca de 95% da população a professar a religião. Tantos, que o bom do Ratzinger bem devia lá ir todos os anos acender uma velinha e agradecer por ainda haver tanta gente a acreditar na história da carochinha do José e da Maria mais o Espírito Santo. Uma crença bem patente no disparate de igrejas que existem no arquipélago. Não as contei, 'tá claro, mas posso dizer-vos que nunca entrei em tanta igreja em tão curto espaço de tempo. Provavelmente mais do que durante toda a minha vida. Quem me conhece, sabe bem que sou uma ateia dos sete costados e o pouco interesse que a arte sacra me desperta. Mas fiz o meu papel de turista e até deixei que me cobrissem os ombros e o peito à entrada de cada igreja, não fosse eu estar a ferir a susceptibilidade de deus nosso senhor com tanta carne à mostra, cruzes credo! É verdade. À entrada de cada igreja em Malta há um solicito beato/a munido de paninhos prontos a cobrirem-nos todas a partes de pele que tenhamos à mostra. O que me pareceu de uma incongruência enorme. Então, mas terá o dito deus vergonha daquilo que dizem que ele próprio criou? Juro-vos que não entendi.

terça-feira, setembro 05, 2006

'Tá tudo dito!



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