quinta-feira, abril 27, 2006

Pois...

"Hold me now
heal my wounds"
Maximilian Hecker

À propos de Monsieur DeBotton

“Until one is actually dead (and then it must be considered impossible), it is difficult to consider anyone as the love of one’s life.”

Alain DeBotton
In Essays in love

Broken Social Scene



Uma pérola. Os Canadianos a insistirem em mostrar-nos que são capazes de ter bom gosto, muito além de Celines Dion e Bryans Adams.

Da felicidade

Seria genuinamente feliz se um passeio de Domingo à tarde num qualquer mega centro comercial da cidade, de fato de treino posto e braço dado com um esposo, também ele de fato de treino vestido e de corrente de ouro ao pescoço, os dois acompanhados por uma considerável prole, certificação autêntica e viva da minha feminilidade e da virilidade dele, se me afigurasse como o momento mais feliz da semana, ponto alto da minha existência.
Não tenho essa sorte. Felizmente, Deus fez-me inteligente.
E felizmente também, não acredito em Deus.

Tinha uma ambição

Chegar a velha e casar-se. Só assim teria a garantia de partilhar o quarto do lar só com uma pessoa, evitando a partilha com mais três velhas mijonas.

Da descartibilidade


Humberto Borges ©

Há umas semanas roubaram-me a mala em pleno Bairro Alto, exactamente no mesmo local, em menos de 10 meses. Podiam pensar que a Bolota é a gaija mais idiota deste planeta ao deixar-se roubar segunda vez no mesmo sítio. Enganam-se. Estava até bem atenta. Mas, bastaram 5 segundos de distracção e…zuca!! Lá se foi a mala (daquele género que nós mulheres cortejamos durante n tempo até ganhar coragem para as comprar e que nos despertam um sentimento de carinho e imprescindibilidade total) com telemóvel, chaves de casa e porta-moedas com dinheiro e cartões Multibanco. Tudo muito facilmente substituível, sem dúvida. Nada de grave, portanto, não fosse o trabalho e dinheiro dispendidos para substituir tudo.
No dia seguinte, já munida de novo aparelho, e enquanto navegava pelas novas funcionalidades da máquina, descubro a seguinte mensagem na secção Modelos para mensagens escritas (que são aquelas que já estão predefinidas para enviarmos quando não temos tempo para escrever uma, estilo Estou em reunião ou Agora estou ocupado ou Já te ligo): Também te amo. Assim. Tal e qual. Fantástico, não é? Até o amor que queremos expressar pelos outros já se encontra predefinido, luzidiamente empacotado em sms prontas a enviar.
Pergunto eu: se tudo se encontra orquestrado a favor da descartabilidade e volatilidade das relações, sejam elas de que tipo forem, onde substituímos pessoas com a mesma facilidade e rapidez com que substituímos objectos e os sentimentos até já se encontram formatados em sms, prontos a serem usados sem nos darem trabalhinho nenhum, como conseguiremos nós agir de forma contrária sem que isso nos cause uma imensa angústia e sensação de estarmos deslocados?

terça-feira, abril 25, 2006

Elbow

"You burn too bright
You live too fast
This can't go on too long
You're a tragedy starting to happen"

All the invisible children


A não perder quando estrear. 7 estórias que são um autêntico murro no estômago. Não sei de qual gostei mais. Espero que a doação que faço mensalmente para a Amnistia Internacional sirva para alguma coisa...

Aos turistas que se passeiam embasbacados por Lisboa

"Ser turista é fugir da responsabilidade. Os erros e defeitos não se colam a nós como em casa. Somos capazes de vaguear por continentes e línguas, suspendendo a actividade do pensamento lógico. O turismo é a marcha da imbecilidade. Contam que sejamos imbecis. Todo o mecanismo do país hospedeiro está adaptado aos viajantes que se comportam de um modo imbecil. Andamos às voltas, aturdidos, olhando de esguelha para mapas desdobrados. Não sabemos falar com as pessoas, ir a lado nenhum, quanto vale o dinheiro, que horas são, o que comer ou como comer. Ser-se imbecil é o padrão, o nível e a norma. Podemos continuar a viver nestas condições durante semanas e meses, sem censuras nem consequências terríveis. Tal como a outros milhares, são-nos concedidas imunidades e amplas liberdades. Somos um exército de loucos, usando roupagens de poliester de cores vivas, montando camelos, tirando fotografias uns aos outros, fatigados, disentéricos, sedentos. Não temos mais nada em que pensar senão no próximo acontecimento informe."

Don DeLillo
in Os Nomes

Ainda sobre o Francisco Adam


Não vejo o Morangos com açucar. Não tenho filhos que me obriguem a tanto e o meu sobrinho mais velho diz-me que aquilo é uma merda, douta opinião que é tudo quanto me basta para não ver. Sei do que trata e as estórias que conta mas nem sequer sabia quem era o Francisco Adam até o rapaz aparecer em tudo quanto é jornal e revista a cause de uma morte prematura. Também não assisti à exploração mediática que a TVI fez do caso, funeral incluído. Porque televisão é coisa que pouco vejo e porque o aproveitamento, expectável, me repugnou.
Mas a morte do Francisco Adam, além de lamentável e do desgosto que trouxe a pais, irmãos, namorada, avós, tios, primos, amigos, conhecidos e fãs, serviu para ensinar a milhares de adolescentes que vivem de olhos grudados na TVI a partir das 18:00, que a vida não é tão cor-de-rosa quanto lhes impingem. Um choque frontal com a realidade, sem dúvida. Mas só lhes fará bem. Julgo eu.
Já agora, alguém que me vá mantendo informada sobre a forma como a produtora vai dar a volta ao texto e encaixar o desaparecimento do Dino na trama. É que não é agora que me vou pôr a ver o Moragos com açucar.

Mas que grande gaita, pá!



Há uns dias descobrira que tinha uma enorme raiva a crescer dentro de si, um imenso grito de Vai pra puta que te pariu que lhe apetecia dizer e ainda não tinha conseguido, uma vontade de meter a mão na anca e fazer cá uma destas peixaradas como nunca fizera, mandando com a sua fleuma britânica pras cucuias. Tudo isto a avolumar-se, qual bola de neve que se agiganta, autentica bomba relógio cheia de vontadinha de rebentar na cara de alguém, enorme besta a resfolgar dentro de si, capaz de pregar uma valente duma cornada numa pessoa que ela lá sabia.
Ou julgava que sabia. Porque, pior, pior foi descobrir uns dias depois que essa pessoa que ela julgava saber era afinal ela própria…

In case we die


Um disco que têm que ouvir quanto antes! Não vá dar-se o caso de morrerem e seria uma pena abalarem daqui sem ouvir isto...

segunda-feira, abril 24, 2006

É hoje! É hoje! É hoje!












Recomeça na 2, às 22:30, depois de na semana passada nos terem presenteado com um teaser e da malta ter andado aqui a salivar e a prender as mãozinhas para não desatar a encomendar a série V todinha da Amazon!!

Pois...

"My weakness is none of your business"
Embrace

Uma dúvida que sempre tive

Quando nos dizemos apaixonados, em que proporção nos encontramos mais apaixonados pela pessoa por quem nos dizemos apaixonados ou pelo sentimento em si de estarmos apaixonados?

Morrissey

"I entered nothing and nothing entered me
'Til you came with the key"

Lisboa num dia de sol


Humberto Borges ©

Lisboa num dia de calor, amenizado por uma breve brisa, onde o sol reflecte a sua luz nas quadrículas das janelas e torna a cor das casas ainda mais viva... será possível alguém não se apaixonar por esta cidade?

sábado, abril 22, 2006

Caminhais em mim


Humberto Borges ©

Caminhais em mim, ouvira ela num fado solto algures, cantado pela Mariza. O que queria exactamente dizer aquilo? Quem caminha em cada um? Na altura, não entendeu. Agora, anos vividos e suados, entendia perfeitamente. Sabia agora que todos que ia conhecendo caminhavam dentro dela, com ela. Tinham dado pedacinhos de si, partilhado frustrações e alegrias, mitigado segredos e afugentado medos, deixado promessas por cumprir e criado ilusões que se desvaneceram, depositado esperanças e vivido memórias. Era assim, caminhando, cheia de todos que lhe passavam pela vida, como se grávida tivesse ficado de todos e sentindo-os a todos ainda a mexer dentro de si, que ia vivendo e construindo-se como pessoa. E seria também assim que, ela própria, se saberia caminhando nos outros. Com a certeza que, mesmo que partisse, algo muito seu ficaria em cada um.

Paperhouse

No meio de um imenso prado verde, onde nada existia a não ser uma enorme cerejeira tão carregada de fruta que os ramos lhe tombavam até ao chão, estava uma casa como nunca ninguém tinha visto. Parecia saída de um desenho de criança. Como se fosse feita de papel. Alguém a tinha desenhado ali, suspensa no meio de nada. Não tinha cor nem era pintada. Era como se fosse cor de papel. Amarrotado. Tudo nela era torto. As janelas estavam de esguelha, a porta era tosca, de linhas muito pouco direitas e o telhado mais parecia um chapéu.
Numa dessas janelas de esguelha estava uma menina com um ar nada sorridente. Tinha grandes tranças morenas, grossas, enfeitadas por grandes laçarotes de fita de cetim vermelha a condizer com o vestidinho de flores vermelhas que vestia.
A menina nada sorridente chamou-me então.
Ao abrir a porta grande e mal feitona, via-se bem que naquela casa nada era como nas outras casas. Lá dentro também tudo era desenhado de forma muito pouco alinhada. As mobílias eram todas mal dimensionadas, as paredes tão toscas como nunca se vira e até as escadas acabavam a meio, a caminho de sitio nenhum.
E lá estava a menina à janela. Nada sorridente, como já disse. Aliás, muito triste porque quem a tinha posto à janela tinha-se esquecido de lhe desenhar as pernas. Por isso, a menina que tinha nascido à janela, porque alguém ali a desenhara, nunca tinha conseguido sair dali. E ainda por cima, quem a tinha desenhado tinha também desenhado tudo aquilo que a menina precisava. Havia uma cama, comida, brinquedos e até um baloiço no jardim. Tudo muito tosco, é certo. Mas estava lá tudo. Mas a pobre menina sem as pernas que alguém se esquecera de lhe desenhar, não podia usufruir de nada daquilo, o que a punha ainda mais triste.
Então eu, munida do meu lápis gigante, desenhei umas pernas na menina triste. Não tenho muito jeito para desenho e as pernas até ficaram mal feitonas e bastante tortas. Mas a alegria da menina triste em puder correr pela casa, sair porta fora, pular e comer cerejas até enjoar foi tanta que não me parece que os meus fracos dotes em desenho tenham importado. Até porque ali tudo era torto, mal dimensionado e inacabado.

Inspirado num filme lindíssimo:

Pois...

"I made a lot of mistakes
in my mind"

Sufjan Stevens