segunda-feira, maio 29, 2006

Plaza Sta Ana, Madrid



Esplanadas cheias de gente, onde predomina um linguajar acelerado em espanhol, de quem se prepara para mais um fim de semana. O Teatro Español que anuncia as noites de flamenco joven. A Cerveceria Santa Ana, Platerias Comedor, Vinoteca Bachichera, Cerveceria La Plaza, Taberna Viña P, Cerveceria Alemana que entretêm os ociosos com as tapas do dia. O homem que em calçoes tenta afugentar o calor, espreita da varanda de um último andar de um edificio oitocentista de ocre pintado e se diverte a ver os miúdos que jogam à bola na praça. Os turistas que não percebem nada deste linguajar madrileno mas que no se importan un pimiento com os enganos que lhes fazem nas contas. O negro rasta que alinhava os ultimos acordes de um hip hop madrileno. A rapariga de pernas bem torneadas e perfeitas, que se passeia de patins. O acordeonista que saca mais uns duros a quem por ali anda. Os breakdancers que circundam um Garcia Llorca feito bronze, espantado com as músicas que agora se fazem e se dançam. A guerra dos sexos que se evidencia já numa luta entre chiquititos y chiquititas, com ellas a ganhar, claro!A espanhola tipica, avantajada, de longos cabelos negros e largos pendientes que hoje vestiu o seu melhor traje de saia branca cigana com blusa a condizer e com um lenço atado à cintura em rosa condizente com o tinto de verano que vai beberricando, anseia por alguém que repare na tristeza que a invade. A americana que em tempos se apaixounou por esta cidade e que por aqui ficou, meia louca e a viver da caridade outrem. E a portuguesa, que depois de 3 copas de Señorio Garci Grande, colheita 2004 e umas tapas de Canelon de salmón, relleno de mozarella, Torta del casar gratinada sobre sobreasada con miel e Tortilla con cebolla (sempre!), abandona a praça com um sorriso meio estupido estampado na cara...

De un tio que se entusiasmou com a bolota...

Noche de interrogantes

Madrid se enciende
y las preguntas bajan por las calles
mientras tu portuñol me recorre...

Y yo me pregunto:
¿ Donde estan las escaleras que llevan a tus ojos?
¿Cuantas capas tiene tu misterio?
¿A que saben tus labios
que a oleadas azota mis costas tropicales?
Ah mi señora lusitana, que escunden sus señales,
que ocultan sus avisas.
¿Donde llevan sus carnes repentinas?

La Latina, Madrid

domingo, maio 28, 2006

Volver



A nova peli de Almodovar, onde o rapaz regressa a sus chicas e nos presenteia com aquilo que melhor sabe fazer: um filme com mulheres, sobre mulheres, relaçoes e ralaçoes entre mulheres, avós, tias, filhas, maes, sobrinhas, amigas. De todo! Um mimo. Onde até a Penelope nos cai bem.

domingo, maio 21, 2006

Intermission

Este blog vai sofrer uma desaceleração na prosa já que a Bolota se encontra de abalada para a capital daquele pais que nós gostávamos que nos invadisse de uma vez por todas. Poderia prometer-vos o inicio e devida continuidade de umas Crónicas de Madrid mas nem vos digo nada. Além do trabalho que me leva até lá por um mês, é preciso não esquecer que… Madrid me mata! Pelo menos é o que dizem. E eu, claro, estarei lá para ver!
iHasta pronto!

Porque os clássicos nunca se esquecem



E porque o Neil Hannon se prepara para nos presentear com mais uma das suas criações.

Do you remember the way it used to be?
June to September, In a cottage by the sea.
Distant cousins, local kids
We climbed every tree together,
And it never ever rained'
Til we climbed back on the train
That would take us so far away
From the village and the rain,
And the summerhouse
Where we found new games to play.
Do you remember
Sunday lunch on the lawn?
Daring escapes at midnight,
And costumeless bathes at dawn.
You were only nine years old,
And I was barely ten
It's kind of weird to be back here again...
Do you remember
The summerhouse?

Divine Comedy
Summerhouse

Humberto Borges ©

Chegou áquela praia deserta, de areia negra vulcânica, banhada por um pacifico revolto, já o dia lhe fugia. Nada havia ali a não ser aquela praia despida. Tão sozinha que até os peixes haviam partido em busca de melhores paragens. Chegara ao fim do mundo? Ou seria ali o principio de tudo? Dúvidas que se impunham a quem tinha chegado precisamente ao extremo oposto do seu mundo. Julgou que fugindo assim, para tão longe, fosse capaz de deixar para trás tudo o que sentia e que a rasgava. Mas enganara-se. Tudo o que trazia dentro de si permanecia consigo, sempre e em todo o lado. Ali a areia era de um cinza escuro, o mar de um prata chumbo e até os montes em redor, apesar de verdes, carregavam sombras consigo. Tudo de um negrume tão intenso e desesperado, em perfeita sintonia com o seu espirito. E apesar de tudo, nunca o monocromático fora tão belo. Da negridão apenas destoavam as pequenas pedras brancas espalhadas pela areia, ali semeadas pelas ondas. Olhou-as demoradamente, brincou com elas, olhou o mar que lhe tinha dado aquelas formas e sorriu. Sorriu ao ver como no meio de tanto negro as pedras brilhavam com tanta candura, sentindo-se ela mesma uma pequena pedra com uma vontade muito própria de se embelezar e sobressair. Pegou na pedra mais branca que encontrou e, colocando-a no bolso, abandonou a praia. Aquela pedra havia de lhe lembrar que mesmo entre a escuridão teria sempre uma forma muito própria de brilhar

quinta-feira, maio 18, 2006

Opá...

No outro dia um amigo meu disse-me uma linda que tenho que partilhar convosco:
Mais vale uma mulher bêbeda do que um homem atrapalhado
É que é tão verdade, pá! Mas tão verdade!...

Humberto Borges ©

Não sei o que aconteceu. Juro que não. Quando dei por mim estava estendido no chão. Acordei com a chuva que troçava de mim, com gotas gordas que me caíam na testa. Ao meu lado fazia-se sentir um intenso cheiro a álcool e a morte. Alguém estava ali estendido comigo. Mas havia sangue. O barulho dos eléctricos nos carris e dos passos na calçada eram-me insuportáveis, quase ensurdecedores e a cabeça latejava-me. Tanto, tanto. As nuvens movimentavam-se velozmente no céu azul e o sol espreitava volta e meia, fazendo-me estremecer, gelado. Não me lembro de como fui ali parar. E muito menos o que fazia aquela navalha na minha mão. Só me lembro do jantar de Natal, onde nos encontrámos todos, trocámos prendas, gargalhadas e disparates e certamente um bom par de copos de vinho a mais. Depois... Depois só me lembro de uma espécie de torpor gostoso que o álcool me deu, de sair do restaurante na galhofa com o Rodrigo, de gozarmos com um velhinho que espreitava de uma janela com binóculos para a vizinha que se despia, da bandeira de Portugal, enorme, esmagadora, a esvoaçar ao vento, de ironizarmos sobre este pais que não sai da cepa torta e de nos perdermos por um beco sujo e escuro. Não me lembro de mais nada. Juro que não. Não sei o que sucedeu. Dizem-me que o matei mas eu... Eu não tenho memória de nada...

quarta-feira, maio 17, 2006

Pois...

"Mais cedo ou mais tarde descobrimos que a felicidade perfeita não existe, mas poucos se apercebem que a inversa também é verdade, quer dizer, que também não há infelicidade absoluta."

Primo Levi
Se isto é um homem

Bandas que tocam no meu iPod...


... (rosa, tá claro!) e que me acompanham por esta cidade fora:
13& God, ABC, Acid House Kings, Aimee Mann, Air, Andrew Bird, Annie, Arquitecture in Helsinki, Ben Folds, The Blue Nile, The Bravery, Brian Eno, Broken Social Scene, Calexico, Cat Power, Clap your hands and say Yeah!, Death Cab for Cutie, The Delgados, Depeche Mode, Divine Comedy, Doves, Duran Duran, Editors, Electronic, Everything but the girl, Fleetwood Mac, Frans Ferdinand, The Go! Team, Hal, Hanne Hukkelberg, Jeff Buckley, Jens lekman, Jon Brion, Josh Rouse, The Killers, Kings of Convinience, Ladytron, Laika, Lali Puna, Lamb, Lambchop, LCD Soundsystem, Lhase de Sela, The Magnetic Fields, Maria Taylor, Marisa Monte, Mark Eitzel, Maximilian Hecker, Morrissey, New Order, Nick Drake, Nina Simone, The Notwist , Patrick Wolf, The Pale Fountains, The Pernice Brothers, Perry Blake, Prefab Sprout, Red House Painters, Richard Swift, Ron Sexsmith, Saint Etienne, Scott Walker, Sebastien Teller, The Smiths, Sondre Lorche, Sparklehorse, Stephen Merrit, The Stereo MC's, The Strokes, The Style Council, Sufjan Stevens, Supertramp, Tarwater, Tindersticks, The Trash Can Sinatras, Troublemakers, The Walker Brothers, Why?, Wolf Parade.

É caso para se dizer que não podia andar mais bem acompanhada!

domingo, maio 14, 2006

Vida de trapo


Humberto Borges ©

Era o primeiro dia do I Congresso Mundial de Trapos e Paninhos. Tinha havido grande discórdia quanto ao nome do congresso por poucos se verem como trapos. Mas as estórias que tinham para contar em viva voz levavam a que se esquecessem de tudo o mais e a entrar apressados, aos gritinhos e às cotoveladas, no pavilhão decorado a papel e flores. Sim, porque tecidos ou panos só mesmo na plateia ou no palco.
A quantidade de cores e texturas era tanta como as vidas que ali levavam para partilhar e que aos poucos iam desfilando palco fora. Havia a flanela de risquinhas muito finas, beges e azuis escuras, que tinha feito parte de um pijama meticulosamente dobrado todas as manhãs. A popelina de flores miúdas e coloridas, que fora bata de negra cansada de tantas escadas esfregar. A seda rosa claro, que vivera como fita de cabelo que aprumara quem ensaiava os primeiros e assustados passos em pontas. A fazenda, cinzenta e lúgubre, testemunha da infelicidade e desespero de alguém que todos os dias caminhara para um emprego que não queria ter. O tafetá de seda natural, em vestido dum verde água perfeito, que tantas mulheres convencera de serem únicas no mundo, nem que apenas por uma noite. O pano crú que cobriu uma camilha e partilhou uma vida inteira com retratos a preto e branco e jarras de empoeiradas flores secas. O cetim feito fita branca, pronta a suster as alegrias de um final de curso cheio de promessas. A sarja pintalgada a corações vermelhos, que servira de avental a mães que mimaram filhos com bolos, biscoitos, tartes e tarteletes. O algodão branco que, feito almofada bordada em enxoval nunca estreado, acalentou a esperança de uma mulher honrada. O tule negro em forma de véu, que tapara a vergonha de uma viúva infiel. A malha de seda vermelha feita saia pingona, salientando curvas para gáudio de olhos cheios de cobiça e desejo.
E havia o linho, que se apresentava ali, honradamente acompanhado pelas suas bainhas abertas, como o grande senhor da noite e que fora aguardado com curiosa expectativa. Esse sim, o verdadeiro trapo, cansado de tantas vezes ter sido cosido, cortado, lavado, passajado, engomado e bordado. Porque, para quem não sabe, o Senhor Linho tinha servido de lençol a dar as boas vindas a quem acabara de chegar à vida, de vestido primaveril que acompanhara o nervosismo e a hesitação de uma rapariga no seu primeiro beijo, novamente de lençol que assistira a paixões tão inflamadas para depois as ver morrer e perderem-se lentamente em noites de solidão e gelo, de toalha de mesa fiel a discussões cheias de silêncios, de lenço que assoara narizes e enxugara lágrimas de quem fingira arrepender-se, para acabar os seus dias velho, sujo e esquecido. Tão esquecido que só pegavam nele para o passar por um chão sujo e porco. Cheio de nódoas e rasgões, o Senhor Linho apresentava-se naquela noite perante uma plateia que começara ululante e que aos poucos se viu entristecida pela evidência clara que, afinal, trapos eram todos, com vidas vividas mas passadas e que o I Congresso Mundial de Trapos e Paninhos não era mais que uma imensa feira de vaidades esquecidas.

sexta-feira, maio 12, 2006

Epá,



desculpem lá voltar à vaca fria mas não me conformo com o facto de, de cada vez que me passeio por esta cidade que me é tão prazenteira, ser agredida volta não vira com cartazes com a carantonha gigante da Teresa Guilherme a morder o lábio inferior do Miguel Falabella. A fotografia postada acima, comparada com a do dito poster, não é nada, vos garanto! É que além de desfear a cidade, dá-me volta ao estômago!!!

Acho que vou ter pesadelos com esta merda!



Durão em forma
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, participou ontem em Viena, Áustria, num jogo de futebol de salão amigável entre líderes mundiais e antigas estrelas de futebol antes da Cimeira União Europeia-América Latina. A partida serviu para angariar fundos para uma associação de ajuda a crianças em risco na Moldova e na Roménia.

Público online. Hoy.

Espero bem que não tenham exposto as pobres das criancinhas moldavas e romenas à transmissão em directo do jogo!
Enfim, louvemos o propósito...

quinta-feira, maio 11, 2006

De mal a pior…

Maternidades a fechar sem a mortalidade mais alta
As onze maternidades que o Governo vai fechar por falta de segurança não são aquelas que apresentam os piores resultados na qualidade dos cuidados prestados às grávidas e aos recém-nascidos - nomeadamente nos índices de mortalidade, complicações ou reinternamentos. É o caso de Barcelos, que regista uma mortalidade inferior à do Hospital de São Marcos, em Braga - a unidade para onde vão ser transferidas as grávidas daquela região
quando o bloco de partos encerrar. (...)
Dados que, de alguma forma, contrariam as declarações que o primeiro-ministro, José Sócrates, proferiu ontem no Parlamento, ao justificar o encerramento pela necessidade de "de salvar vidas e diminuir a mortalidade infantil em Portugal".(...)
O ministro da Saúde, Correia de Campos, afirmou ao DN que estes resultados "só vêm provar" a necessidade de concentrar maternidades. "As pequenas unidades têm melhores resultados porque seleccionam a clientela e enviam os casos mais graves para os hospitais centrais. E fazem muito bem, é sinal que os médicos sabem detectar as situações de risco e escoá-las para hospitais com mais meios. É prova de que há uma desnatação de utentes".

Diário de Noticias

Comparar taxas de mortalidade da maternidade de um hospital distrital como o de Barcelos com as de hospitais centrais como o Hospital de São Marcos, em Braga ou o de S. João, no Porto é infame! Os Hospitais Centrais, dotados de recursos técnicos e humanos mais especializados (por isso mesmo, porque são centrais!) funcionam como fim de linha, recebendo os casos mais graves. Grávidas de maior risco e com complicações são, obviamente, reencaminhadas para este tipo de instituições pelos hospitais com menores recursos. Inferir que uma maior taxa de mortalidade esteja associada a uma pior assistência sem ter em atenção o tipo de grávida assistida e as complicações associadas a essa gravidez é grave! Vá lá que o Ministro da Saúde faz um esforço por esclarecer a questão. Pena que este tipo de estudo sai do Ministério com argumentos tão falaciosos, sem ser devidamente esclarecido e venha causar ainda mais ruído numa questão já de si tão barulhenta.

Notícia completa aqui
http://dn.sapo.pt/2006/05/11/tema/maternidades_a_fechar_a_mortalidade_.html

Era tão previsivel...

José António Saraiva apresentou esta quarta-feira o jornal Sol, com lançamento marcado para o dia 16 de Setembro. O semanário «é uma inevitabilidade, diferente de tudo o que se viu até hoje» e integra vários formatos jornalísticos, explicou em conferência de imprensa o ex-director do Expresso.
Apresentado como uma «ideia luminosa», o Sol terá um jornalismo positivo. «Não estamos virados para o passado», afirmou Saraiva, recusando assumir a concorrência directa com o actual semanário mais vendido.

Diário Digital

quarta-feira, maio 10, 2006

Eu não digo que batemos no fundo?!?!


O SUBMARINO
Submarino é a história de um casal moderno (vivido por Miguel Falabella e Teresa Guilherme) e as suas dificuldades no relacionamento. Usando e abusando do humor, os autores traçam um quadro divertido, emocionante e mordaz sobre a impossibilidade de se manter um casamento ou de se viver sozinho numa grande cidade, neste novo milénio. Esta comédia romântica é uma viagem pela vida, pelas diferentes crises da idade e paralelamente as crises que se vão vivendo numa relação a dois. César é corretor da bolsa de valores e Rita, uma bibliotecária. O casamento deles atravessa inevitáveis altos e baixos e eles contabilizam as próprias separações e os eternos reencontros. "O casamento é igual a um submarino. Até bóia, mas foi feito para afundar", diz Rita numa das cenas, sintetizando o humor e o espírito da comédia romântica que reúne os dois actores. São as farpas e as ironias sobre o casamento nos dias de hoje.


Deve ser cá um filme de terror!! Imaginem!!! A Teresa Guilherme e o Miguel Falabella a representarem a história de um casal moderno e a acharem-se no direito de nos falarem sobre relacionamentos a dois e afins!!! Só faltava dizerem-me que esta porra teve o alto patrocínio do Ministério da Cultura!!!

terça-feira, maio 09, 2006

Porque hoje é 9 de Maio


Humberto Borges ©

Da minha janela vejo o rio que se prepara para a tormenta.
Em tormenta me sinto eu.
E fria.
A casa está fria, eu sei, mas faz ainda mais frio porque sei que me morreste e nada me aquece.
E é assim, fechada como numa caixa, tendo apenas um vislumbre do que é o mundo ou do que ele poderia ser, que me sinto dia após dia.
E no entanto, mesmo sabendo-me assim encerrada, nada sou capaz de fazer para daqui sair e ver o mundo além desta janela.
Porque esta casa me protege.
Do que não sei mas sobretudo do que já sei.
E a vista que esta janela me oferece, os humores que o rio vai sentindo, é tudo quanto me basta ver desse mundo quando sei que tu nele já não existes.

segunda-feira, maio 08, 2006

Ou este?

Este?

´Tá decidido!

Atendendo à operação de decapitação a que a maior parte dos homens nos sujeita, vou passar a andar de burka. Só 'tou indecisa no modelo...

Batemos no fundo...

Novo reality show da TVI estreia no domingo pelas 22:30. O reality show «O Meu Odioso e Inacreditável Noivo» estreia no domingo, dia 14, na TVI. Pelas 22:30, Júlia Pinheiro apresenta o programa, onde todos sabem a verdade menos os protagonistas.
Uma jovem tem de convencer a família de que encontrou o homem dos seus sonhos, que ficou noiva e que vai casar num programa de televisão.
O desafio, premiado com cem mil euros, é manter o desconhecimento da família em relação aos planos secretos da noiva.


Diário Digital

domingo, maio 07, 2006

Pois...

"All this people
drinking lover's spit
Swallowing words
while giving head"

Broken Social Scene

The day after


Humberto Borges ©

Estava ali outra vez. Deitada ao lado de quem não conhecia mas conseguira desejar. A luz da manhã que lhe entrava pelas janelas e lhe iluminava os quartos, espantava-lhe a intimidade que se havia feito durante a noite, tão plena de fumo, copos e equívocos. Não gostava das manhãs, daquela luz que a arrastava para a realidade e a imergia num longo silêncio, que a enchia de enjoo por se ver ali deitada ao lado de quem nunca vira. Que a ajudava a rejeitá-los, a pô-los porta fora, tão agastados como quando os conhecera na noite anterior. Todos tão iguais que não havia idiossincrasia que os distinguisse. Tão iguais que lhe garantiam um esquecimento de quem havia sido quem.
Mas todas as noites, com o barulho das luzes e emaranhada em tantas palavras adoçadas por uma única intenção, esquecia-se do quanto não gostava daquelas manhãs que apenas lhe davam uma breve nuance daquilo que nunca teria. E deixava-se ir… Mais uma vez. Já tão estafada por aquilo que não queria.

Já cá faltava...




2046, Wong Kar Wai, onde a certa altura alguém diz qualquer coisa do género de nada serve encontrar a pessoa certa antes ou depois da altura certa.

Tarwater



A música electrónica a ceder às tentações da pop. Alemães, claro!

quinta-feira, maio 04, 2006

Pois...

"Uma sociedade democrática, continua Tocqueville, é uma sociedade individualista onde cada um, com a sua familia, tende a isolar-se dos outros. Curiosamente, esta sociedade individualista apresenta certos traços comuns com o isolamento característico das sociedades despóticas, porque o despotismo tende a isolar os indivíduos uns dos outros."

Raymond Aron
in As Etápas do Pensamento Sociológico

quarta-feira, maio 03, 2006

iTrip


Deram-me um e devo dizer que é só a maior lókura para qualquer melómano que se preze!! Agora posso ouvir o meu ipod e a música que quero (e não, não tenho Sarah Brightman no meu ipod) em modo shuffle e em altos berros, no carro ou em casa bastando para tal sintonizar uma qualquer frequência de rádio em vez de andar com não sei quantos cds atrás. Como é que uma coisa tão pequenina é capaz de fazer uma mulher tão feliz?...
Obrigada!

Rifão Quotidiano

Uma nêspera
estava na cama
Deitada
Muito calada
A ver
o que acontecia
Chegou a velha
e disse
Olha, uma nêspera!
E zás! Comeu-a.
É o que acontece
às nêsperas
Que ficam
caladas
Deitadas
A esperar
o que acontece

Mário Henrique Letria


Um dia ele pintara-lhe um quadro, um velho e uma rapariga, e escrevera de alguém muito velho mas com muitas mais dúvidas do que certezas.
Não me digas isso! Logo tu! Temos que ter certeza de alguma coisa, alguma vez! Não pode ser sempre assim!, suplicou-lhe ela.
Do alto dos seus 85 anos, ele tranquilizou-a:
Só os estúpidos têm certezas...

terça-feira, maio 02, 2006

A morte fica-vos tão bem

A morte nunca lhe metera medo. A sua. Não a dos outros. Claro. Era suficientemente egoísta para os querer sempre vivos. A todos. Pensava na morte como último reduto a que recorreria quando a vida deixasse de lhe dar prazer. Em vez de angústia, era um pensamento que lhe provocava um extremo consolo. Uma porta de saída para quando a vida se tornasse insípida. Ninguém a entendia. Assim como ela não entendia quem se agarrava desesperadamente à vida, passando cegamente sem a sentir ou descobrir. Fechados em si. Quando via todos os que recusavam a sua própria morte e que, loucos, tudo faziam para a escamotear, desumanizar, ignorar, esquecer e evitar, só lhe ocorria perguntar: como é possível estar-se de bem com a vida quando se está de mal com a morte?