domingo, janeiro 28, 2007

Qual voluntária! Em alguns casos devia era ser obrigatória!

"Eu é que fico com a criança"
Aidida Porto já não quer a adopção da filha pelo casal de Torres Novas


Aqui http://expresso.clix.pt/

E se esta gaja, mais o gajo com quem se meteu e lhe fez a filha, fossem todos pra puta que os pariu e pastar bem longe daqui, hen? Epá, é que me deixa fora de mim, cá com uma vontadinha de chamar a máfia russo-lituâna para fazer um servicinho a estes gajos todos que sobrepõem interesses próprios, narcisismos, conflitos pessoais, inseguranças e estados psíquicos destrambelhados ao bem estar de menores, pá! Se calhar gostam muito da criancinha, queres ver? E já agora querem torná-la muito feliz, não? Ora, batatas, pá! Puta que os pariu! Como se não bastasse, a gaja ainda tem o desplante de dizer que veste a camisola de evangélica e “a mão de Deus é pesada” e que por isso não abortou?!? E estes luminários dos nossos governantes daqui a duas semanas ainda me vêm perguntar se sou a favor da IVG?!?

Até que enfim!

Cidadania e responsabilidade pelo SIM
É o mais transversal dos movimentos.
De católicos a bloquistas, há de tudo.

Aqui http://expresso.clix.pt/

E haja também alguém que finalmente pegue nesta questão do aborto de forma arredada de partidarismos. Como é que o debate de uma questão deste género pode estar a ser feito de maneira tão arreigada a posições politicas, demonstrando total falta de inteligência na discussão?

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Numa palavra



Excelente!

Pois...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Das coisas mais bonitas que alguma vez me enviaram...

quinta-feira, janeiro 25, 2007


Humberto Borges ©

De degrau em degrau, nada mais quero
do que esta rapariga, descalça e leve,
que os sobe de solidão aberta nos lábios.
Solidão suspirada de degrau em degrau,
como um vento súbito e claro.
Rapariga descalça e leve
que sobe cada degrau
com uma solidão a espreitar dos olhos.
Sobe lenta, com o tempo todo para perder,
por entre gente apressada e cega.
Dessa correria cega, sussurro-lhe com lentidão
“Rapariga descalça e leve, quem me dera
que estes degraus te trouxessem directa
ao meu coração“
.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Ainda o Amadeo



Foi sem duvida um fenómeno neste pais, onde se diz que ninguém liga à arte. Mais de 100 mil pessoas visitaram a exposição Amadeo Souza-Cardoso Diálogo de Vanguardas na Gulbenkian. Passou-se também com a Colecção Rau no Museu das Janelas Verdes, no Verão passado, que também encheu. Resta perceber porquê. Assim como alguém devia tentar entender porque é que os espectáculos no Coliseu, CCB, Tivoli e etc, etc raramente estão às moscas e esgotam num ápice. Isto, recordo, num pais de brutos, como dizem, onde ninguém tem sensibilidade suficiente para apreciar uma peça de arte, seja qual for a sua forma. Há quem fale de carneirada. De gente que vai porque alguém foi, sem saber sequer muito bem ao que vai. Haverá sem dúvida uma quota-parte que assim é. Mas para lá de 100 mil pessoas parece-me carneirada a mais. Na minha modesta opinião, o povo português encontra-se sedento de arte de qualidade, ao invés das exposições que insistem em nos impingir, de gente que ninguém conhece, com coisas pavorosas penduradas nas paredes e que nenhum legado deixará ao mundo artístico. Uma vez mortos, mais aos seus compinchas que os apadrinham, as suas obras tornar-se-ão facilmente esquecíveis. O povo português está carente de que o tratem como culto, com dois dedos de testa, com capacidade para pensar e apreciar. Está carente que o tratem como gente civilizada. E a arte sempre foi uma forma de valorizar as pessoas.
Já agora, um reparo. Nunca entenderei porque é que os museus estão abertos durante o horário em que estamos a trabalhar. Principalmente cá em Portugal, onde o sol impera. Entendo que, com o bom tempo que temos, é muito mais aliciante qualquer actividade ao ar livre do que metermo-nos num museu escuro e fechado. Um museu aberto à noite (e conforme ficou provado com as bichas que apareceram na Gulbenkian na passada madrugada de dia 15) constitui-se como uma alternativa bastante interessante aos habituais programas nocturnos de jantares, copos, dança, etc. E muito mais construtivo. Não digo sempre mas de vez em quando, claro que sim!

quarta-feira, janeiro 17, 2007


Humberto Borges ©

Manel, rapaz esperto e interessado, andava naquele oficio ia para 8 meses. Era o primeiro emprego, é certo, mas a verdade é que não tinha muita queda para a coisa e ainda não conseguia perceber muito bem o que tinha que fazer. Os corpos chegavam-lhe frios, inertes, rijos. Às vezes com esgares de dor. Outras vezes nem por isso. O Sr. Antunes, o pai que lhe fazia também as vezes de patrão, homem gorduroso e calejado a enterrar mortos, dera-lhe uma explicação rápida rematada com um Percebeste tudo? mal humorado e impaciente. Uma breve explicação do que tinha que fazer a cada corpo. Aparar cabelos e barba quando os houvesse. Lavar e perfumar os corpos, enxotando o cheiro a morte. Garantir a ausência de flatulência que pudesse assustar familiares durante o velório. Maquilhar senhoras e dar um nó bem apertado aos senhores. Mas Manel não nascera para agente funerário. Moía-se e condoía-se com a dor dos familiares que lhe chegavam a chorar o ente querido. E quando o ente querido lhe entrava pela agência dentro, não conseguia conter-se, desatando num pranto aflitivo, onde as lágrimas lhe turvavam a vista impedindo-o de fazer o serviço como devia ser. À conta disso, muitas famílias eram surpreendidas com o patriarca defunto de lábios pintados de vermelho garrido ou com a avozinha de gravata muito bem posta, a dar ares de lésbica dos anos 20. O Sr. Antunes, em desespero de causa, e porque o mercado de agentes funerários também andava fraco, optou por colar pequenos post it nos defuntos, indicando o que devia ser feito. A coisa correu bastante bem durante uns tempos. Manel só precisava de ler as indicações escritas e cortar onde o papelinho amarelo lhe dissesse que era para cortar, armar um rabo de cavalo onde tal lhe estivesse escrito e por aí fora.
Até ao dia em que lhe entrou o corpo bem delineado de uma jovem rapariga, de longos cabelos, leves e loiros, e de feições miúdas, tão perfeita que até conseguira morrer de sorriso estampado na cara. Chegou-lhe assim. Sem aviso e sem familia a chorá-la. Meio atordoado, Manel principiou a despi-la, devagar e com jeitinho, não fosse magoá-la ou acordá-la daquele sono. Inevitavelmente, começou por lhe despir as calças. Conforme se descobria, o corpo mostrava-se alvo, iluminando-o, a pele macia e coberta por uma leve penugem. De mãos trémulas, desapertou cada botão da blusa como se se desfizessem em pó, descobrindo os seios em forma de lua cheia. Estranhou, contudo. À medida que a despia suavemente não lhe encontrava nenhum post it. Quando, ao acabar de desapertar o último botão da fina blusa de algodão às florzinhas, encontrou um. Bem junto do umbigo. Dizia: Acariciar com meiguice. Dar beijos em doses avantajadas. Fazer festas e miminhos sem fim.

domingo, janeiro 14, 2007

É impressão minha...


...ou os intercalares para publicidade da RTPeta ainda têm enfeites de Natal?!? E pergunto eu: são ainda os de 2006 ou serão já os de 2007 a tentar salvar comerciantes de uma ruína há muito anunciada?

Ódios de estimação



Ao que parece, está grávida. Eis algo que nunca hei-de perceber neste mundo. Para tudo somos submetidos a exame. Desde crianças, quando entramos na primária, que a vida é uma sucessão de testes e exames se queremos alcançar alguma coisa. Menos para sermos pais. Qualquer inimputável pode lembrar-se de ser pai ou mãe sem que para isso tenha que atestar das suas capacidades. E ainda por cima, pode reincidir!

quinta-feira, janeiro 11, 2007


O cavaquinho, 1915
Amadeo Souza Cardoso

À noite, quando a sala finalmente se esvaziava do intenso burburinho e o segurança fechava a última porta do museu, César podia enfim baixar o braço e pousar o cavaquinho sem cordas que nunca tocara. Suspirava aliviado, exercitava os braços doridos e dormentes e saltava para o meio da sala onde o cientista de cigarrilha e o rapaz impar em acrobacias, seus companheiros dos quadros vizinhos, se exercitavam também. Atrás de si ouviam-se já as risadas das arrogantes bonecas de vestidos às bolas coloridas de tinta recentemente restaurada, que troçavam de Amélia, a velha e empoeirada boneca de pano que lhes servira de modelo. Amélia não lhes ligava nenhuma e pondo o seu ar altivo de respiração contida por uma cinturinha bem apertada por um firme arame, partia sala fora à procura do seu amigo. Há meses que estavam ali, naquele museu, quase lado a lado nas mesmas paredes. César, com o seu ar meio abrutalhado, achara-lhe piada logo na primeira noite, assim pequenina e decidida. Desde então, por entre a algazarra que todas as noites se formava naquelas salas, quando todos decidiam descansar das cãibras de horas fio na mesma posição e se entretinham com jogatanas de cartas acompanhadas de gargalhadas de papagaios e do som de violinos mudos, estes dois entretinham-se sim mas com as estórias que Amélia contava de quando fora boneca nova e viçosa e vivera entre humanos. Mundo que Amélia conhecera afinal muito melhor que César, nascido que fora numa tela. Mundo que tanto devia ter mudado, entretanto, desde que a haviam fechado e exposto numa caixa de acrílico. Ali fechados naquelas salas, e à falta do mundo em si, Amélia aproveitava os objectos que alguém se lembrara de pintar nos quadros companheiros dos seus próprios para contar o que conhecera. Mostrava-lhe noite após noite o sabor dos morangos, dos alperces, das peras e dos limões acabados de. Ensinava-lhe a brincar com as várias máscaras com que os humanos se escondiam sem contudo conseguir explicar porque o faziam. Indicava-lhe as paisagens feitas de verde e de rosa com as casas empoleiradas à beira de rios e habitadas pelos humanos que se passeavam por diante deles durante o dia. Casas com janelas donde espreitavam, escondidos. Contava-lhe ainda um sem fim de segredos sobre a vaidade feminina, para que serviam os espelhos e o quão belo podia ser o corpo de uma mulher, ensinando-o em seguida a penteá-la com pentes e escovas e a enfeitar-lhe os cabelos com pequenas camélias amarelas.
César deliciava-se com tudo aquilo. Ouvia-a em silêncio, os lábios permanentemente armados em sorriso. Só conseguia dizer-lhe o quanto gostava de falar com ela quando a verdade é que mal lhe dirigia a palavra, limitando-se a ouvi-la, inebriado pela sua doce voz. Ninguém sabia mas acalentava um sonho. De um dia poder juntar cordas ao seu cavaquinho e fazer-lhe uma serenata montado num dos cavalos azuis que por ali trotavam todas as noites. Em cima daquele cavalo, pensava, haviam de fugir dali para fora em direcção a um mundo cheio de novidades que Amélia tinha para lhe mostrar, deixando atrás de si um imenso vazio branco que surpreenderia o segurança da manhã.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Quadros da minha (curta) vida




Danae (1907)
Gustave Klimt
Private collection, Graz

Pois...

- Todos os sucessos estão encadeados no melhor dos mundos possíveis, porque, enfim, se vós não tivésseis sido expulso de um belo castelo com grandes pontapés no traseiro por amor da menina Cunegundes, se vós não tivésseis passado pela Inquisição, se vós não percorrêsseis a América a pé, se vós não tivésseis dado um bom golpe de espada no barão, se vós não tivésseis perdido todos os vossos carneiros do maravilhoso Eldorado, vós não estaríeis aqui a comer limões, doces e pistácios.
- Tudo isso está certo - respondeu Cândido -, mas é preciso cultivar o nosso jardim.

Cândido
de Voltaire


Dentro da boa educação que os meus paizinhos me deram, ensinaram-me a não ser invejosa, que é muito feio, etc e tal, ensinamento que tenho procurado seguir. Contudo, confesso que não consigo deixar de cair na tentação deste pecado capital cada vez que, depois de ter hesitado uma boa meia hora entre a saia catita que ficava mesmo a matar com a camisola xpto ou o vestido da moda onde o colar que comprei há meses e que está esquecido algures numa gaveta, cairia que nem ginjas, chego à caixa só com uma das peças (porque as restrições orçamentais a isso obrigam) e à minha frente está uma cabra duma gaja com o braço atafulhado de trapos, mais os sapatos a condizer e respectivos acessórios e gasta ali na boinha para cima de 500 € do cartão gold. A maior parte das vezes, do cartão do marido.
É futil, eu sei. Mas também estamos em época de saldos, caramba! Ninguém está à espera de posts sérios num blog duma gaija, pois não?

quarta-feira, janeiro 03, 2007