domingo, março 25, 2007


Humberto Borges ©
A maçã de Adão dele encaixava na perfeição na curvinha que Isabel tinha por trás da orelha quando Rafael se perdia a cheirar-lhe o cabelo. Com a mão percorria-lhe as pernas, por baixo da saia e apertava-lhe a nádega generosa por cima de uns collants impertinentes. Isabel sorria então, aparecendo-lhe do lado direito a covinha que deliciava Rafael, fazendo com que os seus olhos brilhassem meiga e apaixonadamente. Olhava para ele e via-se reflectida naquele mar de luz, perdida de contentamento. Era quando Rafael, sofregamente, começava a buscar-lhe o corpo. A pele de ambos encolhia-se, arrepiada. Na justa medida da intensidade com que se tocavam. O corpo de cada um transformava-se, brilhando com uma luz própria. Entravam naquele jogo intenso de dar e receber prazer com o corpo um do outro, descobrindo-se a cada centímetro quadrado de pele. Isabel brincava, passeando a boca pela curvatura do pescoço de Rafael. Dava-lhe pequenas mordidelas nos mamilos, enquanto o sexo dele intumescia e mostrava alguma impaciência. Em contrapartida, os seus seios descaídos tornavam-se laranjas robustas e rijas, de mamilos espetados, quando as mãos compridas e fortes de Rafael os sustinham. Os lábios carnudos, que Isabel trazia sempre impecavelmente pintados, entreabriam-se de prazer quando a língua pontiaguda dele lhe torneava o umbigo bem desenhado, orgulho de uma parteira há muito esquecida. A púbis generosamente depilada oferecia-se ao aproximar da boca de Rafael, perdida de desejo de o sentir dentro de si.
Dois corpos que encaixavam e se entendiam na perfeição hora após hora, noite fora. Quando finalmente o prazer os golpeava e o cansaço os derrotava, aqueles dois corpos desprendiam-se e caiam lado a lado, abraçando-se mais uma vez e sorrindo um para o outro como se ao longe ouvissem o outro a cantar Eu faço samba e amor até mais tarde. E tenho muito sono de manhã…

sexta-feira, março 23, 2007

Ódios de estimação



Uma amiga minha resolveu pôr a lista de casamento na Agência Abreu. Diligente, mas com uma breve irritação que todo este aparato dos casamentos me provoca, telefono para o balcão que me está mais à mão e pergunto se posso pagar a minha prenda por transferência bancária. Dizem-me que não. Que as transferências bancárias estão a demorar mais de três semanas, que o casamento é dali a uma semana e como tal será melhor dirigir-me a um dos balcões da agência para efectuar o meu contributo à felicidade dos noivos. Reclamo, dizendo que ainda no outro dia foi dia do consumidor e que até foi aprovada uma lei ou coisa que lhe valha que obriga os bancos a terem as transferências disponíveis de um dia para o outro. Do outro lado ouço um suspiro impaciente. Desisto e peço que me diga o horário do balcão “Dias úteis, das 9:30 às 13:00 e das 14:00 às 18:00”, responde-me a voz indolente. Agradeço, desligo o telefone e penso que pelo vistos é preciso estar de férias para se marcarem férias.

quinta-feira, março 22, 2007

Pois...



Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição (...)

Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, março 16, 2007

Gaijos que não me importava de ter a passearem-se cá por casa


Damon Albarn

Com Blur, Gorillaz ou The Good, The Bad and The Queen. Tanto faz.

Esta Lisboa que trago no peito

Agora que este calorzinho bom começa a espreitar, apetece mesmo deitar-nos à (re)descoberta desta cidade. Há uns meses elogiei aqui as muitas praças de Madrid, cheias de esplanadas e gente tagarelando, beberricando e tapeando. Lisboa não é tão fértil neste tipo de praça. É mais discreta. É preciso conhecer bem a cidade, cada recanto e o que esconde cada ruela para saber onde se podem encontrar praças cheias de bairrismo e sossego. Uma que sempre me estará no coração é a Praça das Flores, ali ao Príncipe Real. Com a fonte que se impõe a qualquer praça que se preze, cheia de árvores que apaziguam qualquer um mesmo nos dias mais quentes e com a simpática esplanada do café Pão de Canela, consegue fazer com que nos esqueçamos que estamos no meio de Lisboa. Ao contrário das praças madrilenas, esta é uma praça calma, onde se respira tranquilidade, onde as pessoas são civilizadas e falam baixinho deixando os demais entregues aos prazeres da leitura apenas perturbados volta e meia pelas brincadeiras dos miúdos no pequeno parque infantil. E se por acaso uma cabeça mais distraída se esquecer de levar leitura, não há razão para aflições. Se o plácido contemplamento das gentes a sair e entrar naquele pedaço de céu não for suficiente, o Pão de Canela, simpaticamente, disponibiliza todos os jornais do dia.

quinta-feira, março 15, 2007

Retrato de Freitas retirado por Portas volta à sede do CDS



Noticia de 1ª página no Diário de Noticias de hoje, com foto e tudo.
Mais aqui:
http://dn.sapo.pt/2007/03/15/nacional/sede_cds_volta_a_foto_freitas_de_por.html

Que bom saber que o país não tem nenhuma noticia mais importante para pôr como primeira página de um dos principais diários...

terça-feira, março 13, 2007

Pois...



És tu a Primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante,
em que é pleno e perfeito cada instante.

Sophia de Mello Breyner

domingo, março 11, 2007


Humberto Borges ©

Margarida nascera com o cabelo todo laranja, a lembrar um fogo intenso. Os pais, que tanto tinham ansiado por aquela filha, olharam para ela acabadinha de nascer e pensaram que alguém, de pincel na mão, lhe desenhara aquela farta cabeleira encaracolada. Uma cabeleira de um laranja quente, que emoldurava um rosto miúdo e feliz, que não sabiam ainda sair à mãe ou ao pai. Inconsoláveis por aquela filha tão rara, levaram-na para casa e apresentaram-na às gentes da aldeia. Gente que invejava tudo o que não tinha. Principalmente se fosse coisa fora do vulgar. Houve quem prontamente dissesse que aquela criança só podia ser a encarnação do diabo, com aquela cabeleira que mais fazia lembrar as labaredas onde ardiam almas penadas e uivantes. Houve até quem dissesse que se ouviam gritos de dor vindos do meio dos cabelos de Margarida. Com o ódio que lhe viram dirigido, os pais de Margarida trataram de sair da aldeia que sempre haviam conhecido e procuraram melhores paragens. Escolheram uma casa isolada, no meio de um vale ao longo de um pequeno rio prateado e com terrenos de erva fresca e verdejante em redor. Ali o pai de Margarida punha as suas vacas a pastar e podia sempre ver por onde andava a filha dado o contraste que o cabelo laranja fazia com o verde dos prados. Margarida cresceu feliz da vida, com todo aquele espaço para si mais a sua cabeleira de um laranja cada vez mais vivo, que crescia abundantemente, quase na proporção da sua felicidade. Tanto que a mãe tinha que a aparar todos os dias, aproveitando os cabelos cor de fogo para fazer cabeleiras de Carnaval que vendia na feira da aldeia mais próxima, conseguindo assim uns dinheirinhos extra para a pequena familia.
No dia em que fez 12 anos, Margarida acordou com todo o seu cabelo caído na almofada. Assustada, espreitou-se ao espelho para logo perceber que pequenos cabelos igualmente fortes lhe despontavam na cabeça. Mas desta vez eram verdes. Não gostou nada daquilo. Preferia o seu cabelo da cor que era. Laranja, a combinar com todos os vestidos que a mãe lhe fizera. Foi chorona sentar-se na umbreira da porta, aquecida por um terno sol primaveril. Ao vê-la assim de lágrima no olho, o sol perguntou-lhe porque estava triste. Margarida explicou-lhe a razão de tanto desencanto, para o sol logo lhe responder que seria assim mesmo. Ao longo da sua vida o seu cabelo mudaria várias vezes de cor consoante os conhecimentos que fosse adquirindo. Até ficar branco cor de neve. Sinónimo de sabedoria intensa e tranquilidade.

sexta-feira, março 09, 2007

quinta-feira, março 08, 2007

Pois...



Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que

me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Pedro, lembrando Inês
Nuno Júdice

Estreia hoje


Nos cinemas do Almada Fórum, Cascais Shopping e Vasco da Gama. A distribuição cinematográfica em Portugal a marcar pontos. É que ‘tou memo a ver o publico típico destes cinemas interessadíssimo em 5 rapazes de roupas esquisitas e lenços na cabeça a cantarem músicas nacionalistas, conotadas como pro-fascistas, nos idos anos 80...

quarta-feira, março 07, 2007


Humberto Borges ©


Escreveu a palavra tecto e tudo lhe caiu em cima. Tinha esta particularidade. Cada vez que escrevia uma palavra qualquer, algo acontecia. Estava por isso proibido de escrever fosse o que fosse. O que era uma grande pena porque até gostava bastante de escrever e tinha que fazer um enorme esforço para estar de caneta ou lápis parados. Lembrava-se de um dia ter escrito comboio quando estava numa sala de espera para uma coisa qualquer e de repente toda a gente ter ficado sem braços e sem pernas. Uma aflição! Tudo a gritar, a chorar, aos berros! Sangue a esguichar por todos os lados, a maior porcaria. Podiam pensar que tudo se resolveria se escrevesse outra palavra. Mas não era bem assim. O problema é que nunca sabia o que aconteceria cada vez que escrevesse uma palavra. Dessa vez, por exemplo, escreveu operação pensando que os membros daqueles desgraçados se uniriam de volta ao corpo e assim compor as coisas mas ficou simplesmente esfomeado e teve que ir jantar a correr deixando aquela gente toda para ali, a retorcer-se agonizante, sem pernas nem braços. Nem nunca mais soube o que lhes aconteceu. Houve também uma vez em que escreveu a palavra noite e apagaram-se as luzes de todo o mundo. Foi uma complicação! O mundo inteiro às escuras. Passou dias e dias a escrever incessantemente palavra atrás de palavra a ver se o mundo dava à luz. Mas nada. Por alguma razão especial, daquela vez nenhuma das palavras que escreveu teve qualquer tipo de efeito. Luz, sol, claridade, relâmpago. Nada. Escreveu tudo que lhe veio à memória que tivesse que ver com luz e nada. Até que se lembrou de escrever nuvem ao imaginar uma nuvem com raios de sol reflectidos e foi ainda pior. O mundo inteiro ficar coberto de algodão doce. As gentes coladas umas às outras, pegajosas e docinhas. Mas todos numa fúria levada da breca e a praguejarem intensamente umas com as outras. Em desespero de causa, e porque toda a gente bramava com ele fazendo-o temer pela sua própria vida, escreveu a palavra sorriso. Foi o que lhe valeu e o salvou de pior destino. O mundo tornou-se outra vez luminoso e o algodão doce desfez-se em ar.

terça-feira, março 06, 2007

Muito bom!


Com o bónus da BSO ser dos Broken Social Scene

domingo, março 04, 2007

CML limpa publicidade ilegal

A Câmara de Lisboa limpou mais de três mil metros quadrados de cartazes afixados entre os Restauradores e o Campo Grande, durante uma acção de combate à publicidade ilegal que termina esta sexta-feira, revelou à Lusa fonte municipal.


in Portugal Diário, 2 de Março 2007

Eu por mim preferia um combate cerrado aos grafittis do Bairro Alto...

Humberto Borges ©

Saltas-me nas palavras,
corres-me nas veias,
levo-te entranhado na pele.

Onde antes nada imperava,
deixo que te demores e me aqueças.

E quando os teus lábios nos meus poisam,
esvazia-se a alma de amor há tanto tempo guardado.
Para logo de mais amor se encher.
Amor tão certo daquele a quem se destina.

sexta-feira, março 02, 2007



Algo vai definitivamente mal na organização deste pais quando para votar o Estado é expedito e não me exige o cartão de eleitor, bastando para o efeito a apresentação do Bilhete de Identidade, sendo no entanto o mesmo cartão de eleitor exigido pela EMEL, Empresa Pública Municipal de Estacionamento de Lisboa, para renovação do cartão de residente que me permite estacionar o carro aqui na rua. Com mentalidades destas, não há programa Simplex que resista!