A mim, esta nova lei do tabaco parece-me uma boa bosta. Para além de ter o mérito de, neste começo de novo ano, ter posto a populaça toda a discutir algo que todos conseguem comentar e defender posições de forma aguerrida, esgrimindo respectivos argumentos e interesses, ter monopolizado qualquer conversa, desviando a atenção de assuntos bem mais interessantes e preocupantes da nossa vida civil, com os media a acompanhar o fervor de fumadores, não fumadores, proprietários fumadores em recintos não fumadores e vice versa, presidentes de instituições de fiscalização apanhados em flagrante e diabo a quatro, parece-me uma lei do nim, muito pouco preocupada com os interesses de quem diz querer defender: os dos não fumadores. Do tipo ai e tal e coiso é proibido mas se tiver menos de 100 m2 pode e tal e coisa escolher e tal mas e tal e coiso e se tiver mais de 100m2 pode também ter zonas de fumadores desde que tal e coiso. Uma marcilite, portanto. Muito no género da questão do aborto e do sketch do Gato Fedorento.
Como não fumadora, até ao dia 31 de Dezembro convivia pacatamente com o tabaco. Onde trabalho os poucos fumadores já haviam sido escorraçados para a escadas por algum histérico anti-tabaco, nunca dei pelo tabaco na maioria dos locais públicos, fossem eles hospitais, repartições, transportes públicos, etc, locais onde já era proibido fumar, nos restaurantes o tabaco era-me indiferente e mesmos nos bares e algumas discotecas o ar era suportável porque, como eu, outros não fumadores lá estariam a tornar o ar respirável. Garantiamos uma espécie de fotossíntese do ar.
Pessoalmente, no pós 31 de Dezembro de 2007, e porque a proibição é nova sobretudo para os locais de lazer, vejo-me com as escolhas de restaurantes limitadas quando acompanhada por fumadores e com os bares e discotecas da minha eleição a terem optado pelo cigarro no dedo, expondo-me, em qualquer das situações, a 3 vezes mais fumo que antigamente (já que os fumadores que antigamente se dispersavam são agora obrigados a ir todos para os mesmos sítios).
Além de satisfazer vendedores do misterioso e ainda não identificado sistema de extracção de ar, de dar que fazer a policias que alegremente, ou não, elaborarão autos aos prevaricadores, quando deviam estar, por exemplo, a vigiar os prédios desta cidade cada vez mais grafitados, de criar uma oportunidade de mercado para quem quer que seja que vá tratar da medição da qualidade do ar, não estou a ver como esta lei tenha vindo beneficiar o cidadão comum. Seja ele fumador ou não. É o que eu digo. Boa bosta…