domingo, outubro 14, 2007

Portugis?


A Bolota ©

Chegamos a Malaca e negociamos um táxi ate Medan Portugis por 20 ringitts. Ja dentro do táxi, o motorista pergunta-nos porque chegamos a Malaca e queremos logo ir a Medan Portugis, no esquecido bairro português. Respondemos que somos portugueses. Fica logo ali feita grande amizade pois o taxista e ele mesmo descendente de portugueses, Francisco de seu nome e a mãezinha, de 98 anos, ate se chama Rosário Matilde Teixeira. Da ali duas palavrinhas em cristão (dialecto falado pelos descendentes de portugueses em Malaca, mistura de português arcaico e gramática malaia, o qual conseguimos perceber perfeitamente embora não nos soe a nada de nada) e diz-nos que nos leva a casa dele onde o irmão fala muito melhor que ele e sabe mais umas coisas desta estória dos portugueses em Malaca. Depois do Medan Portugis (Largo Português na tradução a letra), algo desolador e abandonado, presidido pelo Hotel Lisbon e pelo Restoran de Lisbon (onde, diz-nos o Francisco, servem uma comida muito portuguesa. Nós gostávamos de acreditar mas quer-nos parecer que ali, se servir algo português, será cozido Nasi Lemak...), somos levados para casa do Francisco onde vive a mãe, não sei quantos irmãos e irmãs, mais não sei quantos sobrinhos, cães e gatos. A casa é miserável mas não falta uma Ultima Ceia a abençoar a sala de refeições e um postal do FCP, que pelos vistos aqui esteve há pouco tempo. João, o irmão de Francisco, explica-nos que comemoram o Natal, Entrudo, Páscoa, São João e São Pedro (estas duas as grandes festas do bairro português, em Junho), que ensinam cristão aos filhos para que a tradição não se perca, que a maioria ganha a vida como pescador, e que para eles os portugueses, quando foram corridos pelos holandeses em 1641, deviam ter levado a população portuguesa consigo em vez de a abandonar ali. Somos servidos de vinho de cor rose, um vinho feito a partir de arroz segundo uma receita tipicamente portuguesa que Rosário Matilde guarda religiosamente e que nos dizem ser igualzinho ao Vinho Verde. Não é mas que sabe a vinho ao inicio, sabe. Despedimo-nos, prometemos escrever e somos deixados por Francisco no seu táxi a cair de podre às portas da Porta de Santiago, um dos poucos resquícios arquitectónicos da presença portuguesa por estas bandas. E de facto, perguntamo-nos, porque raio, quando os holandeses nos varreram daqui para fora, não levamos os antepassados desta gente connosco em vez de os deixar aqui, onde agora não são carne nem peixe?

1 comentário:

Anónimo disse...

Raio dos holandeses e dos portugueses estão em todo o lado! he, he...
beijocas e divirtam-se muiiiiiiiiito
Sempre
Marsupas