domingo, julho 30, 2006

Quadros da minha (curta) vida



L' Origine du monde (1866)
Gustave Coubert
Musée d' Orsay, Paris

quinta-feira, julho 27, 2006

Pois...

Why did you give me
So much desire
When there's nowhere i can go
To offer this desire
Why did you give me
So much love
In a loveless world
When there's no one i can
Turn to
To unlock all this love

Morissey

quarta-feira, julho 26, 2006


Humberto Borges ©

Acordava todos os dias bem disposta. A essa hora já ele havia saído há muito, rumo àquele emprego que lhe dava um bom dinheiro, e o dia apresentava-se-lhe sorridente. Pelo menos até à hora em que voltariam a encontrar-se, lá por alturas da hora do jantar. Aquela alegria dissipava-lhe os gritos da noite anterior, a violência com que a mão dele avançara sobre ela e até as dores nas costelas, moídas de tanta pancada. Sabia que tinha à sua frente um dia inteiro sem o ver, cheirar ou ouvir e, melhor que tudo, sem o ter atrás de si qual cão atrás de uma cadela com cio. Era com gosto e sem dores que saltava da cama, que se arranjava e chamava uma, duas, três ou quantas vezes fossem necessárias pelos miúdos que teimavam em não se levantarem. Ela, filha daquele casamento mais preso a uma necessidade do que a um sentimento que já não existia. Ele, fruto de uma brincadeira de adolescência, quando a barriga lhe inchou sem que percebesse porquê.
Os dias corriam-lhe bem entre a azáfama de apanhar o autocarro a horas, deixar os miúdos à porta da Casa Pia e correr para casa da patroa onde a lida de uma casa senhorial a esperava. Bem vista entre todos, mostrava-se sempre aprumada, educada, limpa e ciosa do seu trabalho. Era responsável por mostrar às garotas mais novas as manias dos patrões, manias que os faziam despedir pessoal num corrupio desgraçado. Menos ela. Ela mantinha-se ali ia para 15 anos, desde o dia em que a mãe a levara pela mão e assim lhe ensinara a arte daquelas lides. Brincou com as crianças daquela casa e agora, as novas crianças daquela mesma casa viam-na mais vezes que à própria mãe. Adoravam-na e nutriam por esta mulher um carinho desmedido que lhe compensava a falta de amor onde lhe seria devido. E era assim, distribuindo sorrisos e boa disposição, que conseguia levar aquela casa às costas como se da sua se tratasse.
Ao fim do dia, era-lhe fácil arranjar ânimo para ainda ir ter com a mãe à tasca que agora, reformada, explorava e onde, por entre queixumes e desabafos, servia pratadas de caracóis umas atrás das outras acompanhadas de imperiais, de panachés, de minis ou de outra coisa qualquer que alguém inventava na hora. Ajudava aquela mãe corrompida por uma vida sem sorrisos e conseguia enxotar o marasmo que ali estivesse só por ali entrar. Os clientes já a conheciam, brincavam com ela e com aquela força animica sem igual.
Até ele lhe entrar pela porta adentro, com os miúdos pelos braços, distribuindo tabefes e azedume. Ai, por mais forças que fosse buscar para o enfrentar, o mundo desabava-lhe em cima e a boa disposição fugia-lhe para parte incerta. Nesse preciso momento sabia que só voltaria a sorrir na manhã seguinte. Ele deixava-se ficar, carrancudo, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte e só ele o soubesse, exigindo-lhe imperial atrás de imperial enquanto lhe passava a mão pegajosa pelo traseiro, indicio de vontades não correspondidas. Com cara de tão poucos amigos que os próprios clientes da tasca punham cara de caso e iam-se despedindo, saindo aos poucos. Até só restarem os dois. E então, qual touro na arena que enfrenta uma morte anunciada, ela agarrava nos miúdos já adormecidos, virava-se para ele e dizia-lhe: Vamos para casa que já é tarde.

terça-feira, julho 25, 2006

Fui ver...



...arrastada pelos meus sobrinhos. Gostei assim, assim. Sobretudo, não gostei de ver o Johnny Depp a sucumbir à malevolência das grandes produções e a ter a sua representação (precisamente a que havia afamado o primeiro filme) completamente remetida para segundo plano. Quase parece um actor secundário. Mas adiante. No filme existe uma figura mítica, tentacular, à semelhança do que já apareceu noutros filmes aquáticos como as 20.000 Léguas Submarinas e outros que tais. Ora o Kraken, assim se chama o bicho, encarrega-se de destruir as embarcações que lhe apareçam pela frente aproveitando para devorar tudo quanto é gente. Pirata ou não. Tanta, que tem fama de ter um hálito horrendo equivalente aos milhares de cadáveres em putrefacção no seu estômago. Quando vi isto não pude deixar de sorrir e pensar se nós mesmos não seremos uma espécie de Kraken, exalando um hálito fedorento e pestilento à custa de todas as pessoas com que nos cruzámos ao longo da vida, que provámos, que digerimos e que morreram, no sentido em que deixaram de existir nas nossas vidas. Felizmente, ainda existe a pasta medicinal Couto.

sexta-feira, julho 21, 2006

Pois...



"A shady friend for torrid days
Is easier to find
Than one of higher temperature
For frigid hour of mind."

Emily Dickinson

quinta-feira, julho 20, 2006



"Money is not everything, but it is better than having one's health. After all, one cannot go into a butcher shop and tell the butcher, "Look at my great suntan, and besides I never catch colds", and expect him to hand over any merchandise (unless, of course, the butcher is an idiot). Money is better then poverty, if only for financial reasons."

Silly season, indeed



Benedita Pereira assume ser uma sedutora
Caras, 15 de Julho

Entre beijos e lágrimas
A emocionante despedida de Merche e Ronaldo
Flash, 12 a 18 de Julho

Ricardo Pereira
Olha quem está solteiro outra vez
Grazia, 13 a 19 de Julho

Astrid e Paulo Pires querem voltar a ser pais
Caras, 22 de Julho

Namoro assumido
Merche Romero e Cristiano Ronaldo visitam familia do joagador na Madeira
Lux, 17 de Julho

Após doze anos de encontros e encontros
Paulo Sousa e Cristina Mohler
Contam a sua verdadeira história de amor
Caras, 15 de Julho

Entrevista a José Mourinho
"Não sou um pai autoritário"
Lux, 17 de Julho

Jaciara revela primeiras impressões de Deco depois do mundial
Flash, 12 a 18 de Julho

Amor tórrido em tempo de férias
Entrevista exclusiva
Cristiano e Merche
"Estamos sempre a namorar"
Caras, 22 de Julho

Rita Ferro Rodrigues termina relação de cinco anos com Daniel Cruzeiro
Lux, 17 de Julho

Falhada a reconciliação com o ex-marido, Ducruet, Stephanie tem novo romance com cantor francês
Caras, 22 de Julho

Exclusivo
Simão e Filipa Sabrosa juntos no Algarve
Férias românticas desmentem separação
Lux, 17 de Julho

É impressão minha ou o pessoal da bola está a merecer mais atenção da prensa rosa do que a socialite cá do burgo?

segunda-feira, julho 17, 2006

Pois...



i carry your heart with me (i carry it in my heart)
i am never without it (anywhere i go you go,my dear; and whatever is done by only me is your doing, my darling)
i fear no fate (for you are my fate, my sweet)
i want no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows (here is the root of the root and the bud of the bud and the sky of the sky of a tree called life;
which grows higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)

e e cummings

A propósito de regras


Humberto Borges ©

Não se deve levantar da mesa antes dos outros acabarem. Desde criança que lhe diziam aquilo e desde criança que lhe custava horrores cumprir tal coisa. Na altura, quando era pequeno, não gostava de ficar à mesa a ouvir as conversas chatas dos adultos. A guerra da Índia do tio e o tempo que lá tinha estado preso. As histórias da mãe, que eram sempre as mesmas sobre primos, tios, avós e bisavós que ele nunca conhecera nem nunca conheceria. O irmão que, inflamado e ruborizado, discutia futebol. As discussões de politica entre o pai e a tia que acabavam sempre aos gritos e insultos. Não gostava. Além disso, faziam-lhe sempre um exagero de perguntas, como ia a escola, qual a matéria que mais gostava, o que queria ser quando fosse grande, se já tinha namorada... Tudo acompanhado de risinhos meio parvos. Quando perguntava se se podia levantar diziam-lhe sempre que não, acrescentando a frase “fica aqui a conviver cagente”. Mas se ele era criança e eles adultos, de que se trataria aquele conviver? Não entendia.
Agora, adulto, a mesma falta de paciência para as mesmas conversas chatas mantinha-se. Estavam todos mais velhos, é certo, a começar por ele mesmo. Mas nem por isso as conversas tinham subido de interesse ou sentia mais entusiasmo por conviver com aqueles adultos. E custava-lhe ficar ali sentadito e aparentemente sossegado enquanto lhe perguntavam pela enésima vez “Então, Joãozinho, e o teu emprego? Já foste promovido? Quando é que arranjas um emprego melhor? E quando é que arranjas namorada e te casas? E quando é que tens filhos, Joãozinho?" Não gostava mesmo nada. Mas lá ia ficando. De figura de corpo presente, ausente em pensamentos mil, só seus. Tal como quando era o pequeno Joãozinho. Só que agora tinha uma agravante. Enquanto adulto, tinha desenvolvido um apurado gosto por comer e beber, pelo que o fim das refeições lhe era ainda mais doloroso. De barriga cheia bastante acima das suas necessidades, sonhava em sair dali para fora e esticar-se no sofá a fazer a digestão como uma jibóia. Mas não. Continuava a ser falta de educação sair da mesa antes dos outros acabarem e se o fizesse arriscar-se-ia mesmo a ouvir “Ai, Joãozinho, não te levantes já. Fica aqui a conviver cagente”.

quinta-feira, julho 13, 2006

Top 10


Costumo dizer que a Bolota é verbo Ir. Qualquer percurso que implique fazer malas e abalar deixa a Bolota aos pinchos. Possui uma predilecção acentuada por viajar, ver sítios e gentes novas, olhar, conhecer culturas diferentes e falar com as mais variadas espécies. Tudo isto muito exacerbado por uma formação base em Sociologia. Mas mesmo pra Bolota, há sítios, por uma razão ou por outra, a evitar determinantemente. A saber:

  1. Cancun, México (indiscutível 1º lugar!)
  2. Viareggio, Itália (com a maior concentração de italianos antipáticos por m2)
  3. São José, Costa Rica (grandemente compensado pelo resto do pais)
  4. Varadero, Cuba (que invariavelmente ocupa o 1º lugar deste Top 10)
  5. Praticamente toda a Inglaterra que já visitei (e foi bastante!) à excepção de Londres, Bath e Lake District. E já agora a Cornualha, que gostava de visitar.
  6. Milão, Itália (onde um gaijo pode vestir sapatos prateados, calças brancas e camisa cor de rosa e não ser gay nem ter ninguém a rir-se a bandeiras despregadas dele)
  7. Todo o Barlavento Algarvio até Lagos (a implodir....)
  8. Mazatlán, México (do mais decadente que alguma vez visitei. Também quem é que me mandou lá ir?)
  9. Ilha do Sal, Cabo Verde (porque naquela porra daquela ilha não há nada para fazer e até pombinhos madly in love conseguem enjoar-se um do outro)
  10. Recife, Brasil (no comments...)

Um Top 10 de sítios a não repetir, portanto. Espero que os destinos de férias que escolhi para este ano não se venham a somar a estes... Prometo para breve um Top 10 de locais a não perder. Uma escolha muito mais difícil, vos garanto. Até lá, aceitam-se propostas para acrescentar a este top.

quarta-feira, julho 12, 2006

Sex in the city



Teve a sua estreia no ano passado. Este ano repete-se a dose. Começa amanhã e prolonga-se até dia 16. Na 1ª edição, aquilo que podia ser um passo importante para a libertação sexual dos portugueses, tornou-se num espectáculo de voyerismo com uma enchente de público baboso e ávido, desconfortável para qualquer genuino interessado na matéria. Não fui, embora tivesse esperado ansiosamente pelo evento. Este ano não sei. Pode ser que a novidade tenha passado e que o público se mostre mais comedido.

terça-feira, julho 11, 2006

Leia-se Julho



Todos os dias apanho o autocarro na D. Carlos I e lembro-me disto:

"Em meados de Junho os jacarandás de Lisboa estão em flor, a sua luz fende a pupila, acaricia o dorso da sombra. É então que (...) a inocência volta a entrar na minha vida."

Eugénio de Andrade

L for...



Parece que os gaijos todos da praça andam histéricos com a série The L World. Porquê? Porque, ali, as gaijas são todas lésbicas ou em vias de o ser. E todas podres de boas, segundo opinião abalizada. De facto, são-no. Tão boas que eu própria me atiraria de boa vontade para cima de qualquer uma delas. A série tem sido um êxito nos E.U.A. e além mar, com direito a uma L World Convention em Londres agendada para Novembro e tudo. Conseguiu a proeza de reabilitar a carreira de Jennifer Beals e conseguiu por o público masculino em polvorosa confirmando o velho fetiche dos homens por tudo que meta troca de fluidos entre mulheres. Apesar das cenas de sexo explícito serem inexistentes, as insinuações e marmelanço entre o grupo de mulheres (podres de boas, não esquecer) parecem ser mais que suficientes para os por em ponto de rebuçado. Não me consta que, aquando da projecção do Queer as folk, onde as insinuações iam muito além disso, o mulherio se tenham exaltado tanto. E nem sequer a série da televisão britânica teve tanto êxito. À parte da curiosidade que The L World possa gerar por mostrar a homossexualidade feminina a sair descaradamente do armário, tem também o mérito de nos mostrar que as traições, decepções, incertezas, alegrias, rotinas, carências, afectos, inseguranças e cegueira que o amor provoca não são exclusivo das relações heterossexuais. O que me cria algum desanimo já que, atendendo ao quanto menos vou percebendo do mundo masculino, já me tinha passado pela cabeça virar-me pro outro lado a ver se a coisa corria melhor. Assim, ficou-se uma lésbica pelo caminho e a série ganhou mais uma espectadora. Resta saber se os criadores da série são eles mesmos homossexuais ou se serão heterossexuais a colarem a um Mundo L as suas próprias vivências e crenças nefastamente heterossexuais (a par com os tais fetiches masculinos) sobre esse bicho que é o amor.
Na 2, de segunda a quinta. A desoras, claro (00:30).
Ou melhor, era assim na semana passada. Esta não. Na próxima não sabemos. A estratégia de programação da RTP no seu melhor.

Quando era pequena...


Humberto Borges ©

gostava de se lambuzar com chapeus de chuva de chocolate, enrolados em pratas coloridas. Sempre pensara que não podia haver melhor utilidade para um guarda-chuva e imaginava como seria divertido as pessoas abrigarem-se da chuva com chapeus de chuva de chocolate que podiam ir comendo.

Não se faz!



Confesso que estou aqui numa choradeira pegada, com os olhos que nem dois repolhos, por conta do último episódio da série, que há pouco, na 2, pôs um ponto final definitivo na história dos cangalheiros mais famosos da televisão. Sim, porque ainda por cima fazem o favor de nos mostrarem a morte dos personagens todos para que não nos restem dúvidas quanto ao fim da história, sem a minima hipótese de comebacks. E agora? Como é que vão ser as minhas noites de Segunda-feira sem os Fisher, hen? Como em tudo na vida, habituam-nos a gostar seja do que for para depois nos roubarem assim. Desalmadamente, sem apelo nem agravo.
Ah! E confirma-se. A música da semana passada era dos Arcade Fire. Feita em exclusivo pra série. Já a de hoje era da Sia.

segunda-feira, julho 10, 2006

'Tá tudo dito!



Os livros mais vendidos em Portugal
Lojas Fnac, top de 26 de Junho a 2 de Julho
1º - Amar depois de amar-te
Fátima Lopes
2º - Marley e eu
John Grogan
3º - Fortaleza Digital
Dan Brown

Visão
6 de Julho 2006

A banhos



Iniciei este fim-de-semana a minha temporada balnear lusa. Já me tinha esquecido de quanto os homens portugueses, com o seu 1,70 m, adoram usar calções-saiotes a tapar-lhes os joelhos, numa profusão nauseante de flores, cores e padrões vários.
Fiquei chocada!

terça-feira, julho 04, 2006

Everything ends


Ainda não refeita do choque que foi a morte do Nate, tenho a dizer-vos que a melhor frase do episódio de hoje veio do fantasma do próprio que, em tom de advertência, nos diz qualquer coisa como death is a dreamless sleep for ever and ever. Might as well have fun while you're alive.
E aquela música do final era de quem, alguém me diz? Arcade Fire?

domingo, julho 02, 2006

Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeehhhhhhhhhhhhhhhhh!!!


Humberto Borges ©

Portugal olé! Portugal olé! Portugal olé! Portugal olé!
Mais fotos da festa aqui: http://www.pbase.com/photokhan/quarter_finals__done