sábado, agosto 26, 2006

Uma tremenda falta de chá



Naquela noite, a ultima coisa que lhe apetecia era levar com um caramelo que mal conhecia a atirar-se atabalhoadamente e sequiosamente a ela. Não pelo caramelo em si. Até já se havia cruzado com ele e tinha-lhe achado alguma piada. Mas porque o fortuito já não lhe interessava e já se encontrava suficientemente desgastada por tantos encontros que afinal haviam sido desencontros para estar agora a levar com lisonjearia vinda do nada, de quem nem sequer a conhecia e que, tinha a certeza, se esfumaria num ápice. Apesar da falta de vontade, este até tinha a sua graça e no meio das muitas patacoadas que ia dizendo havia uma ou outra coisa que lhe despertava alguma curiosidade. Mas ficou tudo por ali. Um pedido do numero de telemóvel, a certeza quase certa que ele nunca usaria aquele numero para nada e foi tudo.
Mas não. Afinal o telemóvel tocou passados uns dias para um gentil convite para jantar. Espantada, acedeu. E porque gaija que é gaija arreia-se bem para este tipo de evento, esmerou-se e vestiu a sua blusa mais decotada, evidenciando o peito generoso. Costumava fazer isto. Era uma espécie de teste que gostava de fazer: ver como o macho reagia e se comportava perante um estímulo meramente físico.
Rapidamente se viu sentada à frente do dito caramelo, em ambiente ameno a tertúlias. Por entre copos de Quinta de Cabriz e garfadas de carne argentina acompanhada de muita rúcula, foi desfolhando em doses comedidas aquilo que a fazia como pessoa. Uma vida inteira de estudos, viagens, pontos de vista, gostos, livros, filmes, ideias e ideais. Enfim, mostrando-se. E procurando ouvi-lo. Ele, não sendo o rei da verbosidade, correspondia de forma agradável. Por breves instantes, ela chegou mesmo a vislumbrar ali alguém interessante, existindo até alguma similitude de ideias. Havia o seu ar um pouco à Ken da Barbie que a deixava desconfiada, com aquele bronzeado cerrado que ela não conseguia perceber onde ele teria ido arranjar naquela altura do ano, mas a coisa corria bastante bem, com a concordância verbalizada de ambas as partes que estavam a passar um bom bocado.
Sentia, no entanto, que havia ali qualquer coisa que o deixava inquieto. Alguma coisa que lhe estava atravessada, que o desconcentrava, distraía e que lhe dava um ar de Ken baboso.
Enquanto explicava entusiasticamente porque é que não tinha gostado assim tanto do Equador do MST e de como a havia irritado a forma como o estilo queirosiano é abruptamente embrulhado com um final camiliano, ele disse-lhe:
- Preciso de te dizer uma coisa.
- Sim?
- As tuas mamas têm estado a falar comigo desde o início do jantar.
Foi a partir desse dia que ela começou a ser conhecida entre os amigos como Miss Talking Boobs. Foi também a partir daquela data que ficou provado que um homem Ken, à conta de tanto convívio com tanta Barbie, reagirá muito mais rapidamente a qualquer estimulo físico do que a estímulos cerebrais de qualquer ordem.

1 comentário:

Anónimo disse...

quem tera sido a gajainteligente q te deu o nome de TB?
eh eh eh delitrante
escreves mm bem