terça-feira, setembro 05, 2006

Brandas palavras


Humberto Borges ©

Os portugueses tem uma característica que me irrita. Um certo miserabilismo mediano que faz com que, sempre que perguntamos a alguém Tudo bem? ouvimos invariavelmente como resposta um Mais ou menos ou Nem por isso ou ainda um Vai-se andando (esta então é de bradar aos céus!! Mas vai-se andando pra aonde?!?) E tal acontece mesmo quando as necessidades básicas a uma felicidade mínima se encontram garantidas. Trabalho, saúdinha, tecto, comida e dois dedos de testa incluídos. Veja-se por exemplo agora com o regresso de férias. Experimentem perguntar a alguém Atão, as férias? Foram boas? e de certezinha que vão ouvir um frouxo Passaram-se, um Foram curtas ou um Cá estamos. Às vezes, cúmulo dos cúmulos, até podemos ouvir um Epá, já 'tava farto de férias! Mas isso diz respeito a um outro departamento da personalidade portuguesa sobre o qual não me vou debruçar hoje. Continuando, é quase impossível obter como resposta a qualquer uma destas perguntas um fulgurante, cheio de sangue na guelra Epá! Tou óptimo! Bestial! Memo bem! As férias foram supimpas! A coisa atinge dimensões tais que, quando alguém responde assim, desconfiamos. Até porque, normalmente, quem assim o faz é acometido por outro mal igualmente irritante que é o de permanentemente dourar a pílula em frente dos outros mesmo que esteja tudo na maior merda. Muito naquela filosofia do eu tenho que ser melhor que os outros e ter uma vida perfeitinha, mesmo que assim não seja que isto o que conta é a aparência.
Os portugueses nunca serão suficientemente sinceros para, quando se lhes pergunta se está tudo bem, responderem um redondo e convicto NÃO e mandar a pessoa para aquela parte mais a sua gentileza. Mesmo quando, na maior parte das vezes, a pergunta é feita de tal forma desinteressada e essa seja a resposta mais a propósito.
E pronto. Já fiz o meu papel de genuína portuguesa escrevendo mais um post a cascar no povo lusitano.

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