domingo, junho 11, 2006

Uma tarde de touros



O grande evento da semana passada em Madrid não foi de forma alguma a morte da eterna Rocio Jurado (agonizante há semanas, pobrecita, en su casa de La Moraleja. Ela e o povo espanhol. Aliás devo dizer que nos primeiros dias que aqui estive pensei que os noticiários fossem todos feitos em directo à porta de casa da grande cantante). Ni siquiera as ideias peregrinas de Zapatero em condescender mais autonomia ao Pais Basco, Catalunha e restantes comunidades de Espanha. E muito menos o concerto dos Red Hot Chilli Peppers (nome que, pronunciado com o inigualável sotaque castelhano, me vi aflita para entender dificultando-me à brava a tarefa de perceber o porquê de tanta gente em torno do Palacio de Deportes numa Sexta-feira à noite). Naaaaaaaaa. O verdadeiro evento da semana passada foi a ida da Bolota a uma tourada! Ah poisé! Há várias coisas a considerar para se reconhecer a importância deste evento:
1 – A Bolota é ela própria Touro, sendo muito provável que lhe desse volta ao estômago assistir à matança pública do bicho.
2 – A Bolota nunca tinha ido a um evento deste género sendo que percebe népias de tauromaquia.
3 – A Bolota estava com uma ressaca descomunal da noite anterior e em vez de andar, arrastava-se. Com grande dificuldade.
Ora bem, a festa na Plaza de las Ventas começa cá fora, com as bancas de venda de comes e bebes, bandeiras da (ainda) nação espanhola atravessadas por touros negros como o touro Osborne que nos habituamos a ver por essas planícies espanholas fora, vestidos de sevilhanas, touros em peluche, leques e tudo o mais que seja ícone vendável espanhol. Famílias inteiras, turistas e aficionados vão chegam e distribuindo-se pelas bancadas engalanadas de bandeiras vermelhas e amarelas, de acordo com o preço das entradas. Os mais aperaltados, de onde se destaca o espanhol típico de fato claro e cabelinho empastado, repuxado para trás com toneladas de gel (ou será ainda brilhantina?), acompanhado de su señora com roupagens acabadinhas de sair das tiendas da Calle Serrano, acomodam-se nos lugares mais próximos da arena. Os aficionados, munidos de bocadillos de jamón e garrafões de vino y sidra na andanada, cá para cima, muito mais longe da arena. Tal como a Bolota, claro, que isto não custa muito dar 7 € por uma coisa destas já não se podendo dizer o mesmo dos 150 € dos melhores lugares. Bom, abreviando, tive a sorte de me sentar ao lado de um senhor de um pueblo da Extremadura, fascinado por Portugal, já muito batido nestas andanças e que me fez o favor de me explicar tudinho mas tudinho sobre o que se passa numa corrida de touros. Agora sei perfeitamente que tudo começa com o capote, seguido do picador, a cavalo, vindo depois as banderillas e terminando com a muleta e a espada, quando se mata o desgraçado do touro (devo dizer que me identifiquem bastante com o pobre do bicho, lutando até à última...). Acho que é assim... Ao que parece, há uma crise de toreros y ganadero em Espanha e a corrida não foi muito boa. Dois touros, de tão maus que eram, foram directos pró curral. Mas mesmo assim parece, pelo que me disseram porque, como já referi, percebo népias do assunto, que assisti a um bom touro e a um bom toureiro. De facto, assim pareceu quando no fim, o povo todo se levantou de pañuelo blanco na mão acenado para o presidente da corrida para que fosse dada a orelha do porco, desculpem, do touro ao toureiro, que de orelha na mão dá uma volta à praça, agradecendo os aplausos de um publico em absoluto êxtase. Não estaremos muito longe dos tempos do circo romano, dirão vocês… Espectáculo verdadeiramente bizarro, vos digo eu. Mas digno de se ver, pelo menos uma vez na vida. Nem que seja por uma questão cultural e para tentar perceber melhor este povo. Além que depois de uma boa tourada as tabernas madrilenas servem os melhores pratos de Rabo de Toro do pais.

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