quarta-feira, novembro 15, 2006


Humberto Borges ©

Sempre que as via pela primeira vez, elas apareciam-lhe cor-de-rosa. Fossem morenas, ruivas ou loiras, baixas ou altas, magras ou gordas, cada mulher que encontrava era vista pelos seus olhos como uma imensa mancha rosa, de contornos pouco claros. Um rosa tão forte que lhe fazia saltar o coração do peito e encher o olhar de enlevo. Que o envolvia, inebriando-o e fazendo-o perspectivar toda uma vida perfeita em comum. Uma vida cor-de-rosa. Onde todos os seus anseios se realizariam. O rosa tornava-se ainda mais vivo a partir do momento em que se envolvia com elas. Os gestos, hábitos, gostos e conhecimentos delas adquiriam então diversas matizes de cor-de-rosa. Era tanto o rosa que quase ficava cego, deixando de ver fosse o que fosse enquanto ardia em paixão. Mas aos poucos, à medida que as ia conhecendo melhor, aquele rosa ia-se esbatendo. Passava a uma cor indefinida cada vez que um defeito se mostrava, que uma palavra ou um gesto o desapontavam ou quando a vivência que tinha com elas lhe ficar aquém do que havia imaginado. De tal forma que às tantas o rosa pura e simplesmente desaparecia. Altura em que as via e em que as deixava.
Sim. Porque era-lhe impensável amá-las quando se tornavam cinzentas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois... e porque é que os homens são tão sonhadores? também eles acreditam em princesas?
Marsupilami