terça-feira, maio 01, 2007


Humberto Borges ©

Já experimentaram fazer bolas de sabão? Irem para uma janela sobre a cidade, e desatarem a fazer bolas de sabão para o ar, imaginando onde acabará cada uma? Uma coisa assim feita sem objectivo, só pelo puro prazer de a fazer? É uma amostra daquilo que fomos há tanto tempo e que ficou pelo caminho. Onde, nem sabemos bem. Algures no meio de uma desilusão ou de uma discussão. Ou mesmo de um capricho não satisfeito ou de um sonho desfeito. Aquilo que ficou para trás, como se tivesse esvoaçado cidade fora, dentro de uma bola de sabão. Bola de sabão que se cruzou com outras bolas de sabão, igualmente cheias de expectativas e pequenos pedaços de alma, encarcerados e tristes por se verem afastados de quem lhes pertencia. Pedaços de alma esperançados, alegres e sonhadores, que deixaram atrás de si gente vazia de alegria. Pedaços de alma voando e observando uma cidade que corre por entre as pessoas, observando todo este teatro que fazemos, antes dos seus invólucros de sabão se extinguirem e deixarem-se cair sobre novos corpos, encantando-os e enchendo-os de nova esperança. São bons estes momentos em que se calhar recebemos uma bola de sabão cheia de alegria de alguém, em que nos esquecemos de nós mesmos e nos entregamos a um doce prazer só pelo gosto de o fazer. Para logo a seguir nos lembrarmos desta porra que é ser-se adulto, desta nossa vida que nos atravessa e que mais parece uma criança mimada que não nos obedece.

Sem comentários: