sexta-feira, setembro 21, 2007

O bem que este homem escreve...



"Parece que, da China, só nos vêm problemas e constrangimentos. Parece que querer correr com as 'lojas chinesas' da Baixa e acantoná-las numa "Chinatown" a criar, como defendeu Maria José Nogueira Pinto, é uma proposta racista, xenófoba e discriminatória. Parece, pois, que o que é politicamente correcto é investir uns milhões largos numa operação de revitalização da zona histórica e central de Lisboa, mas sem ferir os interesses dos comerciantes chineses ali instalados, em sã convivência multicultural com a arquitectura pombalina. É fácil, aliás, imaginar como os chineses receberiam de braços abertos uma invasão de tasquinhas e casas de fado portuguesas na Praça Tiananmen... O problema das 'lojas chinesas' não está apenas na concorrência desleal que fazem, trabalhando em famílias organizadas, sem horários nem direitos sociais, e vendendo a metade do preço produtos fabricados na China em regime de 'dumping social', que Jerónimo de Sousa imagina ser a versão actualizada do comunismo. De facto, para o peditório dos pasmados 'comerciantes tradicionais' da Baixa, já demos de mais e sempre em vão. Eles não querem, não sabem e não irão nunca reciclar-se. O problema também não está na nacionalidade dos donos, mas sim nas próprias lojas. O problema é que as 'lojas chinesas' são feias por fora e por dentro, com um aspecto sujo e degradado, e praticando um tipo de comércio de século XIX para cidades feias, sujas e degradadas. Se queremos recuperar e ressuscitar a Baixa, é óbvio que elas estão a mais ali. Se uma cidade não tem o poder de determinar que tipo de estabelecimentos quer e tolera nas suas zonas históricas, porque com isso pode atingir interesses de uma comunidade cuja cultura e hábitos são um enxerto estranho no seu meio, então mais vale dizer que prescindimos de qualquer política de defesa de valores culturais próprios. E, se temos de nos conformar com o 'estilo chinês' do pequeno comércio, então também teremos de aceitar passivamente as tabancas portuguesas com balcões de zinco, luzes de néon, cadeiras de plástico e toldos da 'Olá'."

Miguel Sousa Tavares no Expresso da semana passada. O resto da crónica aqui: http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/116692

1 comentário:

AnaD disse...

E desta vez até concordo com ele ... o meu boicote às lojas dos chineses prossegue em boa forma desde há uns bons anos!