quinta-feira, dezembro 14, 2006


Humberto Borges ©

Vira-se de repente sem emprego. Assim que o patrão lhe descobrira o romance com o filho e a tomara por uma porca de uma oportunista em busca de mais altos voos do que os prometidos pela simples condição de secretária. Os meses passavam e ela sem trabalho. O medo de se tornar num daqueles sem abrigo que vira todos os dias a caminho do emprego que a rejeitara, espreitava-lhe a cada esquina. Enquanto um novo trabalho insistia em não aparecer, tornar-se uma paixão de aluguer pareceu-lhe o mais óbvio. Até porque sempre gostara de sexo, porque não ganhar dinheiro com isso? Seria ouro sobre azul e apesar de pequenina e redondinha olha, seria como dizem, a mulher é como a sardinha, quer-se pequenina e gordinha. Seria assim? Já não se lembrava.
Achou por bem procurar alguém que percebesse do assunto, que tivesse uma casa montada evitando-lhe preocupações com clientes de estribeiras perdidas e pagadores em hora incerta. Aconselharam-lhe a D. Laurinda, cinquentona mais que batida no negócio da venda de amor de mulheres, e que lhe inspirou confiança precisamente por isso. Por ser mulher.
Do alto do seu corpo entroncado, a D. Laurinda disse-lhe que sim, que até estava mesmo a precisar de uma rapariguita nova e de carnes rixas. “Sabe, é que os clientes são desta casa há muito tempo e uma vez por outra sempre gostam de provar carne fresca” dizia-lhe ela por entre uma gargalhada solta, vinda da boca desdentada e que lhe fazia tremer o corpo todo.
Alguém a preveniu que o primeiro cliente, o Dr. Ambrósio, homem de família, aprumado e de capachinho bem penteado e colado à testa, gostava das coisas feitas devagar, conforme a idade lhe ia permitindo, com muita palavra terna, simulando rios de amor e carinho. Acatou a deixa e depois de uma breve troca de palavras e insinuações, lá subiu com o Dr. Ambrósio para um dos quartos dos amantes. Envolveu-se das maiores canduras e enlevo, pronta a conquistar por breves instantes um coração que lhe disseram doce. Para, surpreendida, prontamente descobrir que o bom do Dr. Ambrósio queria lá saber de falinhas mansas, candura e preliminares. Aquele homem franzino gostava mesmo era das coisas feitas à bruta e foi com um passe de mágica que Vera se viu de repente estirada na colcha de cetim azul, comprada numa qualquer feira de aldeia, com o Dr. Ambrósio montado em cima dela, de tecto às cavalitas, a urrar-lhe aos ouvidos.

1 comentário:

Anónimo disse...

excilente... até parece que consigo visualizar o caro Sr. Ambrósio de falinhas mansas a zurrar....
Marsupas