quarta-feira, outubro 25, 2006

Os quadros da minha (curta) vida



The Extraction of the Stone of Madness (1475-80)
HieronymousBosch
Museo del Prado, Madrid

Muito se fala deste pais, da forma como insistimos em não nos equiparamos ao resto da Europa questionando-se o porquê das coisas nunca funcionarem. Neste Sábado, o Expresso trouxe uma reportagem digna de qualquer pais em vias de desenvolvimento. Em Oeiras, distrito há pouco tempo noticiado como o mais letrado do pais, uma pessoa tem que estar antes das cinco da manhã à porta do Centro de Saúde, que só abre às oito da manhã, para conseguir uma consulta. Para aquele dia ou para dali a um mês. Se tiver o azar de ter mais não sei quantos desgraçados que madrugaram como ele mas conseguiram chegar segundos antes, esgotando as senhas do dia, mais não lhe resta que voltar a repetir a maratona no dia seguinte ou, pior, dali a um mês. Situação mais que caricata. A de uma pessoa ter que perder uma noite de sono para esperar para marcar uma consulta médica no Serviço Nacional de Saúde. À chuva e ao vento, se for caso disso, correndo o risco de apanhar uma pneumonia e incorrer por si só em mais encargos para o próprio SNS. Já assim era quando eu era adolescente e corria para o mesmo Centro às escondidas dos meus pais para marcar uma mísera consulta de Ginecologia. As desculpas que eu tinha que inventar para saltar da cama às quatro da manhã e sair porta fora. E, na altura, nem sequer os after hours estavam na moda. Nunca pensei foi que, volvidos quase 20 anos, tudo se mantivesse na mesma. Num pais onde quase 25% do Orçamento de Estado vai para a saúde e onde a despesa total com saúde ronda os 10% do PIB nacional, justifica-se? Talvez. Porque não é uma questão de falta de dinheiro. É pura e simplesmente má gestão e completo desrespeito por aqueles que devíamos estar a servir. Com estas e outras tantas tão parecidas ainda perguntam porque raio somos nós um povo triste, pais do fado e do eterno derrotismo, sem nunca conseguirmos equipararmo-nos ao resto da Europa?

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