quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Alguém me explica?



Cena caricata presenciada hoje, num autocarro de Lisboa. Entro e estão duas fiscais, devidamente fardadas, identificadas e instrumentadas com um aparelho complicadérrimo de ultima geração para leitura de validade de passes e afins, a explicar pacientemente a uma senhora de meia idade, bem arranjada e composta que, como não tinha bilhete ou titulo de transporte válido para ali andar, terá que pagar uma multa. A senhora, enxofrada, diz que não paga multa, coisíssima nenhuma e que aquilo é uma pouca vergonha. Perante o que é decido pelas fiscais que vamos todos de charola para o Marquês de Pombal local onde, pelos vistos, existe uma central xpto para resolução deste tipo de desacato. Avanço autocarro dentro e que vejo eu? Uma população de passageiros indignados com a senhora de meia idade que, ao contrário deles, não pagou pela viagem que pretendia fazer? Não. Vejo uma população ululante, a lançar impropérios às fiscais, essas fascistas de farda grenat que, em vez de andarem à caça de carteiristas, andam ali a incomodar a vida do desgraçado do pobrezinho que nem dinheiro tem para pagar um bilhete. O motorista, mandatado sei lá eu porque regras da Carris, encosta ali a meio da rotunda do Marquês do Pombal para deixar sair fiscais e senhora de meia idade. Os passageiros insurgem-se contra a infractora por os obrigar a desviar da sua rota? Não. Lançam-se sobre o pobre do motorista, chamando-o de estúpido, parvo e totó, que não tinha nada que parar ali no meio da rotunda atrasando assim a vidinha de cada um. O motorista acata a insurgência e retoma a rota normal da carreira que conduz, parando na paragem seguinte para deixar sair fiscais e infractora. Esta recusa sair. Grita que aqui d’el rei, dali não sai, que não paga nada, que chamem a policia e que aquilo não fica assim, que vai a tribunal e diabo a quatro. Os passageiros perdem finalmente a paciência com a senhora de meia idade, pregando-lhe com dois valentes bofetões, agarrando nela e chutando-a porta fora? Não. Mais uma vez é o motorista a apanhar por tabela por não entender que a senhora dali não vai a lado nenhum, fingir que nada se passou e retomar pacatamente a condução.
Pergunto eu: o que leva o povo a manter-se do lado do infractor, dirigindo um ror de insultos à autoridade? Será por cada um andar, de uma forma ou de outra, a enganar alguém, seja ele o Estado, entidades de serviço público ou privado, o marido ou a mulher, o patrão ou a patroa, a família ou os amigos, o cão ou o periquito e por isso se generalizar um sentimento colectivo de união contra a entidade enganada, seja ela qual for, acossando-a?

1 comentário:

Anónimo disse...

como diria o vasco pulido valente o problema de portugal nao é a crise ou o desemprego mas os portugueses serem doidos varridos

se ha 1 alberto joao jardim esta tudo explicado nao?