domingo, maio 21, 2006


Humberto Borges ©

Chegou áquela praia deserta, de areia negra vulcânica, banhada por um pacifico revolto, já o dia lhe fugia. Nada havia ali a não ser aquela praia despida. Tão sozinha que até os peixes haviam partido em busca de melhores paragens. Chegara ao fim do mundo? Ou seria ali o principio de tudo? Dúvidas que se impunham a quem tinha chegado precisamente ao extremo oposto do seu mundo. Julgou que fugindo assim, para tão longe, fosse capaz de deixar para trás tudo o que sentia e que a rasgava. Mas enganara-se. Tudo o que trazia dentro de si permanecia consigo, sempre e em todo o lado. Ali a areia era de um cinza escuro, o mar de um prata chumbo e até os montes em redor, apesar de verdes, carregavam sombras consigo. Tudo de um negrume tão intenso e desesperado, em perfeita sintonia com o seu espirito. E apesar de tudo, nunca o monocromático fora tão belo. Da negridão apenas destoavam as pequenas pedras brancas espalhadas pela areia, ali semeadas pelas ondas. Olhou-as demoradamente, brincou com elas, olhou o mar que lhe tinha dado aquelas formas e sorriu. Sorriu ao ver como no meio de tanto negro as pedras brilhavam com tanta candura, sentindo-se ela mesma uma pequena pedra com uma vontade muito própria de se embelezar e sobressair. Pegou na pedra mais branca que encontrou e, colocando-a no bolso, abandonou a praia. Aquela pedra havia de lhe lembrar que mesmo entre a escuridão teria sempre uma forma muito própria de brilhar

1 comentário:

Anónimo disse...

e eu sorri também...
Marsupilami