terça-feira, maio 02, 2006

A morte fica-vos tão bem

A morte nunca lhe metera medo. A sua. Não a dos outros. Claro. Era suficientemente egoísta para os querer sempre vivos. A todos. Pensava na morte como último reduto a que recorreria quando a vida deixasse de lhe dar prazer. Em vez de angústia, era um pensamento que lhe provocava um extremo consolo. Uma porta de saída para quando a vida se tornasse insípida. Ninguém a entendia. Assim como ela não entendia quem se agarrava desesperadamente à vida, passando cegamente sem a sentir ou descobrir. Fechados em si. Quando via todos os que recusavam a sua própria morte e que, loucos, tudo faziam para a escamotear, desumanizar, ignorar, esquecer e evitar, só lhe ocorria perguntar: como é possível estar-se de bem com a vida quando se está de mal com a morte?

1 comentário:

Anónimo disse...

A vida nem sempre nos traz ou dá prazer....a vida por vezes pode ser insípida...
E nem por isso necessitamos de encarar a morte como solução para a ausência de prazer ou insipidez das rotinas.
E a morte - ou talvez ainda mais a velhice - aterroriza de facto esta sociedade ocidental que por isso mesmo tende a ignorá-la, esquecé-la, evita-la, preferindo criar pactos de amizade eterna com a vida, como se uma coisa invalidasse ou pudesse impedir a outra. Mas a realidade é que é fácil e possível estar-se de bem com a vida se por e simplesmente se igora e recusa a morte!